Por Wilson Périco*
A justiça retirou na
semana passada a prerrogativa da Superintendência da Zona Franca de Manaus de
liberação de cargas para o abastecimento, transferindo à secretaria Estadual de
Fazenda a atribuição. A medida resguarda o interesse público, que já começa a
padecer a escassez de produtos e o direito ao trabalho de empresas e
colaboradores da cadeia produtiva do modelo Zona Franca de Manaus, que
contabilizam prejuízos que vão além de R$ 4 bi, segundo a soma de estimativas
de alguns setores. De intuito, a propósito, a justiça antevê o caos a partir de
uma situação que se arrasta e se agrava sem horizonte de solução. O modelo ZFM,
cabe a pergunta – merece tanta punição apesar de tantos acertos? Um modelo que
não usa recursos públicos, e que devolve 4 vezes mais a renúncia fiscal em que
se baseia para florescer uma indústria não-predatória na floresta. E este
modelo, criado para reduzir as desigualdades regionais e proteger o patrimônio
natural, virou fonte de financiamento para a União. A riqueza aqui produzida,
mais da metade, é transferida para a União. Um recurso que foi pensado e
planejado para ajudar a consolidar o modelo e regionalizar seus benefícios.
Neste fim de semana,
a imprensa paulista descreveu o conjunto dos desacertos federais que a gestão
da Amazônia representa nos últimos anos.
E destacou a violência como um dos descaminhos da intervenção vesga
dessa gestão do Brasil em 63% do seu território que a Amazônia representa.
Favela Amazônia, uma reportagem espetaculosa do Estadão, mostra, indiretamente,
os estragos numa região que não aplica inteligentemente a riqueza que produz ou
que poderia produzir se aplicasse suas verbas de pesquisa e desenvolvimento. A
matéria descreve fatos, como se o Brasil
amazônico fosse um país distante do Brasil do Sudeste. A matéria destaca
algumas das sequelas da violência, tanto com as populações tradicionais da
região, como dos habitantes das áreas urbanas, quase 80% da demografia,
açoitada pelos ditames perversos do narcotráfico.
Em visita ao CIEAM, em maio último, o
secretário de Segurança, Sérgio Fontes, um delegado da Polícia Federal e uma
das maiores autoridades em combate ao tráfico, no país, relatou uma indústria
que está dando certo, a indústria do tráfico e sua lucrativa organização
criminosa. Aí está a causa principal da violência no Amazonas, da Amazônia e do
país. “ Manaus é o primeiro aglomerado urbano que a produção e a rota do
tráfico privilegiam e usam para ensaiar sua logística e governança sombria”. Da
encosta da cordilheira dos Andes, onde era tradicionalmente produzida, a droga
se movimentou na direção da fronteira com o Brasil, onde já estão ocupados 10
mil hectares de cultivo de coca, com uma produção anual de 100 toneladas, às
margens do rio Javari, na fronteira do Amazonas com o Peru.Com o corte no Orçamento, as verbas da FUNAI para
cuidar das etnias indígenas da região, tiveram redução de 70%. Alguns desses
grupos sofreram a manipulação sombria do narcotráfico, que utiliza o descaso
federal com as populações tradicionais para fortalecer suas atividades. O
Brasil já é o maior consumidor de cocaína do mundo, à frente dos Estados Unidos.
A Polícia Federal conta com apenas 80 policiais em Manaus e 20 na fronteira,
para monitorar a imensidão e multiplicidade de rios amazônicos que ali se
formam. Sem a ZFM é fácil imaginar o que virá por aí.
Em Marabá, às margens
do Rio Tocantins, onde o Programa Arco Norte se consolidou como opção logística
para o agronegócio, com interferência robusta das empresas, invasões como
Fanta, Infraero, Vila do Rato e São Miguel da Conquista, ironizam ocotidiano e
ilustram a violência que a economia da droga implantou. Sem saneamento e
segurança, formadas na pressão do fluxo de migrantes dos municípios esquecidos,
e atraídos por projetos de construção civil, mineração e pecuária, Marabá e as
periferias das cidades amazônicas, mostra que a crise da região, incluindo o
drama da Suframa, seus servidores e seu esvaziamento, não é econômica, é de
gestão e de credibilidade. Um jogo difícil e penoso de enfrentar.
*Por Wilson Périco é
presidente do Centro da Indústria do Amazonas
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