terça-feira, 14 de julho de 2015

Fernando Collor recebe retaliação por falar a verdade sobre Janot?


“Leão ferido dá mordeduras mais violentas”
Ditado romano
Por Said B. Dib*

Foi só o senador e ex-presidente Collor peitar o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, em pronunciamento há poucos dias (09/07), que acabou, mais uma vez, sofrendo retaliação populista-midiática por parte daqueles que estão transformando instituições sérias da República em instrumentos mafiosos em defesa de interesses pessoais. Collor, um senador da República, um ex-presidente, havia denunciado de forma corajosa e bem embasada a recorrente seletividade, por parte do procurador-geral da República, em investigar eventuais suspeitos. Collor apontou ligação entre Janot e uma série de relações criminosas, inclusive, com a suspeita de acobertar o próprio irmão, Rogério Janot Monteiro de Barros, procurado pela Interpol por crimes contra a ordem financeira na Bélgica. Parece que o procurador-geral sentiu o baque, pois, sem mesmo esperar um tempinho, sem disfarçar, sem vergonha na cara, montou circo hoje contra Collor, com base em matérias requentadas que datam de pelo menos dois anos (a investigação já é conhecida desde o final do ano passado). E sem considerar que, espontaneamente, por duas vezes, Collor havia se colocado não só à disposição para ser ouvido pela PF, mas havia insistindo em ser sabatinado. Depoimentos, aliás, duas vezes desmarcados na véspera.

Mas veja a razão da retaliação de Janot contra Collor: 

Segundo Collor, Rogério Janot, irmão do procurador, é caçado pela Interpol como responsável por falsificação de escrituras, fraude e infração à legislação tributária e nunca foi preso, apesar de as autoridades brasileiras, inclusive do Ministério Público Federal (MPF), terem o endereço e conhecimento de onde ele residia. Collor apontou que o procurado se gaba sempre da competência jurídica do irmão mais novo, ou seja, do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. No discurso que fez, Collor indagou se Rodrigo Janot possui casa em Angra dos Reis, no Condomínio Praia do Engenho, km-110, da Rodovia Rio-Santos. “Janot, o senhor continua homiziando na referida residência um contumaz e confesso estelionatário, sócio do irmão, como fez nos anos noventa, depois de exercer o cargo de procurador-chefe substituto no Distrito Federal? O senhor continua recebendo renda de aluguel sem passar recibo? O senhor continua sonegando imposto por não declarar os recursos recebidos desses aluguéis? O que foi feito dessa casa, afinal, Janot? O senhor abandonou o imóvel? Transferiu? Alugou de novo? Vendeu?”, indagou senador. O irmão do procurador também é suspeito de fazer fortuna por um período, entre 1990 e 1992, vendendo equipamentos de informática com notas frias. O procurador-geral foi acusado de intermediar o negócio do seu irmão com uma grande empreiteira mineira. Empresa essa que, mesmo com indicativos de participação em esquemas na Operação Lava-Jato, os empresários não foram presos, ao contrário de outros empreiteiros citados na investigação. “Essa empreiteira está de fato arrolada na Operação Lava Jato, com dirigentes já presos, como ocorreu com as outras grandes empreiteiras? Por acaso, Janot, o senhor aplica a seletividade também em relação às construtoras? Afinal, Janot, o senhor ainda tem alguma ligação com essa empreiteira de Minas Gerais?”, reforçou o senador. Collor pediu que o procurador-geral diga a verdade e fale se ele conhecia as atividades criminosas de seu irmão ou foi apenas um procurador complacente, furtando-se à vigilância pelos crimes fraternos. “Não fosse Rogério seu irmão a cometer crimes fiscais e tributários, o senhor agiria da mesma forma, sem o rigor da lei – embora seletivo – que o senhor tanto prega?”, perguntou o senador. Collor perguntou ainda se é verdade que Rodrigo Janot trabalha camufladamente há anos para o escritório do ex-procurador-geral Aristides Junqueira. “É verdade que, mesmo impedido de advogar, o senhor – claro, sem nada assinar – obtém lucros auxiliando a banca do Aristides Junqueira? Isto é moralmente aceitável? É legítimo? É ético, Janot? Não constitui crime um procurador-geral da República advogar paralelamente? Desde quando o senhor pratica essa dupla atividade? E como o senhor faz com sua declaração de rendimento? Como justifica perante o fisco essa renda, digamos, extra?”, acrescentou, sem papas na língua, o parlamentar alagoano. Ao final do discurso, Collor perguntou se o procurador teria coragem de ser acareado publicamente com algumas testemunhas desses fatos. “Diga-nos, diretamente, Janot, quem é o senhor de fato? Um pretenso defensor da lei ou o senhor, na verdade, é um infrator da lei, da moral, da ética, seja no passado, seja no presente? Em qual dos dois Janótes os brasileiros devem acreditar? Janot, pelo sim, pelo não, no fundo de sua alma, o senhor não se sente desconfortável ao acomodar-se na cadeira de um procurador que deveria honrar o seu mister?”, concluiu o senador. 

Ou seja, caro leitor, entenderam o porquê da pantomima de hoje com a nova “fase” da “Operação Lava-Jato”, a “Operação Politéia”. Pantomima, aliás, que tentou manipular o inconsciente coletivo da população desinformada, usando o que? A casa da Dinda. Claro! Simbólico, não? Só substituíram o Fiat Elba pela Ferrari, reforçando a ira popular. Isto mostra que Janot está apelando. Perdeu as estribeiras. Sentiu o pronunciamento de Collor! Ah!, sentiu. Por isso reagiu desta forma grosseira contra Color. Realmente, Janot, o leão ferido, está desesperado, raivoso,  violento e perigoso. Mas, vejamos...

Você se lembra porque, efetivamente, Collor foi deposto?

Quando o motorista Eriberto França foi usado como respaldo para as denúncias sobre o esquema PC Farias, o PT automaticamente encampou a história, a CPI tomou força e Collor acabou deposto por um “golpe de mestre” das elites políticas, simplesmente porque, pelo seu caráter forte (arrogância de um jovem de 41 anos), nunca aceitou se submeter aos esquemas e “mensalões” do Congresso que, em 2006, assistimos estarrecidos na TV. Tudo rápido e simples, tiraram o homem de cena sem choro nem vela. O primeiro presidente da República eleito pelo voto direto após 29 anos, Fernando Collor de Mello, teve seus atos “ilícitos” julgados publicamente e, de acordo com o depoimento do senador Pedro Simon (PMDB-RS), “nunca criou nenhum obstáculo para que a CPI que investigou seu tesoureiro PC Farias” os apurasse, fornecendo-lhe, ao contrário, o apoio necessário do aparelho policial a ele subordinado. O então presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Sydney Sanches (o Joaquim Barbosa da época, no sentido de politização do Judiciário), comandou a sessão do Congresso em que o chefe do governo foi cassado - e fez vista grossa para a ilegalidade flagrante da recusa em aceitar a renúncia do presidente, encaminhada em texto de próprio punho antes do julgamento. Collor foi impedido (sofreu golpe de Estado), perdeu os direitos políticos por oito anos e nunca foi condenado a coisa alguma pelos crimes pelos quais foi punido com a perda do mandato. Mas, ainda hoje, a grande mídia mente aos desavisados de plantão e execra o ex-presidente Collor sem nem bem saber o porquê, acusando-o de modelo e exemplo de uma grande “corrupção institucionalizada”; mas ao mesmo tempo, estranhamente, não sabem identificar um único exemplo de corrupção, esquecendo até que Collor ganhou todas as ações contra ele na Justiça, sendo inocentado de todas as acusações que lhe foram imputadas. É isso que Janot, irmão do procurado, tentou explorar. Mas, sinceramente, acho que vai se dar mal nessa história toda...



* Said Barbosa Dib é analista político em Brasília

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