Ditado romano
Por
Said B. Dib*
Foi só o senador e ex-presidente
Collor peitar o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, em pronunciamento
há poucos dias (09/07), que acabou, mais uma vez, sofrendo retaliação populista-midiática
por parte daqueles que estão transformando instituições sérias da República em
instrumentos mafiosos em defesa de interesses pessoais. Collor, um senador da
República, um ex-presidente, havia denunciado de forma corajosa e bem embasada a
recorrente
seletividade, por parte do procurador-geral
da República, em investigar eventuais suspeitos. Collor apontou ligação entre
Janot e uma série de relações criminosas, inclusive, com a suspeita de
acobertar o próprio irmão, Rogério Janot Monteiro de Barros, procurado pela
Interpol por crimes contra a ordem financeira na Bélgica. Parece que o
procurador-geral sentiu o baque, pois, sem mesmo esperar um tempinho, sem disfarçar,
sem vergonha na cara, montou circo hoje contra Collor, com base em matérias
requentadas que datam de pelo menos dois anos (a investigação já é conhecida
desde o final do ano passado). E sem considerar que, espontaneamente, por duas
vezes, Collor havia se colocado não só à disposição para ser ouvido pela PF,
mas havia insistindo em ser sabatinado. Depoimentos, aliás, duas vezes desmarcados na véspera.
Mas veja a razão da retaliação de Janot contra Collor:
Segundo Collor, Rogério
Janot, irmão do procurador, é caçado pela Interpol como responsável por falsificação de escrituras,
fraude e infração à legislação tributária e nunca foi preso, apesar de as
autoridades brasileiras, inclusive do Ministério Público Federal (MPF), terem o
endereço e conhecimento de onde ele residia. Collor apontou que o procurado se
gaba sempre da competência jurídica do irmão mais novo, ou seja, do procurador-geral
da República, Rodrigo Janot. No discurso que fez, Collor indagou se Rodrigo
Janot possui casa em Angra dos Reis, no Condomínio Praia do Engenho, km-110, da
Rodovia Rio-Santos. “Janot, o senhor continua homiziando na referida residência
um contumaz e confesso estelionatário, sócio do irmão, como fez nos anos
noventa, depois de exercer o cargo de procurador-chefe substituto no Distrito
Federal? O senhor continua recebendo renda de aluguel sem passar recibo? O
senhor continua sonegando imposto por não declarar os recursos recebidos desses
aluguéis? O que foi feito dessa casa, afinal, Janot? O senhor abandonou o
imóvel? Transferiu? Alugou de novo? Vendeu?”, indagou senador. O irmão do
procurador também é suspeito de fazer fortuna por um período, entre 1990 e
1992, vendendo equipamentos de informática com notas frias. O procurador-geral foi
acusado de intermediar o negócio do seu irmão com uma grande empreiteira
mineira. Empresa essa que, mesmo com indicativos de participação em esquemas na
Operação Lava-Jato, os empresários não foram presos, ao contrário de outros
empreiteiros citados na investigação. “Essa empreiteira está de fato arrolada
na Operação Lava Jato, com dirigentes já presos, como ocorreu com as outras
grandes empreiteiras? Por acaso, Janot, o senhor aplica a seletividade também
em relação às construtoras? Afinal, Janot, o senhor ainda tem alguma ligação
com essa empreiteira de Minas Gerais?”, reforçou o senador. Collor pediu que o
procurador-geral diga a verdade e fale se ele conhecia as atividades criminosas
de seu irmão ou foi apenas um procurador complacente, furtando-se à vigilância
pelos crimes fraternos. “Não fosse Rogério seu irmão a cometer crimes fiscais e
tributários, o senhor agiria da mesma forma, sem o rigor da lei – embora
seletivo – que o senhor tanto prega?”, perguntou o senador. Collor
perguntou ainda se é verdade que Rodrigo Janot trabalha camufladamente há anos
para o escritório do ex-procurador-geral Aristides Junqueira. “É verdade que,
mesmo impedido de advogar, o senhor – claro, sem nada assinar – obtém lucros
auxiliando a banca do Aristides Junqueira? Isto é moralmente aceitável? É
legítimo? É ético, Janot? Não constitui crime um procurador-geral da República
advogar paralelamente? Desde quando o senhor pratica essa dupla atividade? E
como o senhor faz com sua declaração de rendimento? Como justifica perante o
fisco essa renda, digamos, extra?”, acrescentou, sem papas na língua, o
parlamentar alagoano. Ao final do discurso, Collor perguntou se o procurador
teria coragem de ser acareado publicamente com algumas testemunhas desses
fatos. “Diga-nos, diretamente, Janot, quem é o senhor de fato? Um pretenso
defensor da lei ou o senhor, na verdade, é um infrator da lei, da moral, da
ética, seja no passado, seja no presente? Em qual dos dois Janótes os
brasileiros devem acreditar? Janot, pelo sim, pelo não, no fundo de sua alma, o
senhor não se sente desconfortável ao acomodar-se na cadeira de um procurador
que deveria honrar o seu mister?”, concluiu o senador.
Ou seja, caro leitor,
entenderam o porquê da pantomima de hoje com a nova “fase” da “Operação
Lava-Jato”, a “Operação Politéia”. Pantomima, aliás, que tentou manipular o
inconsciente coletivo da população desinformada, usando o que? A casa da Dinda.
Claro! Simbólico, não? Só substituíram o Fiat Elba pela Ferrari, reforçando a ira popular. Isto mostra que Janot está apelando. Perdeu as estribeiras. Sentiu o pronunciamento de Collor! Ah!,
sentiu. Por isso reagiu desta forma grosseira contra Color. Realmente,
Janot, o leão ferido, está desesperado, raivoso, violento e perigoso. Mas, vejamos...
Você
se lembra porque, efetivamente, Collor foi deposto?
Quando
o motorista Eriberto França foi usado como respaldo para as denúncias sobre o
esquema PC Farias, o PT automaticamente encampou a história, a CPI tomou força
e Collor acabou deposto por um “golpe de mestre” das elites políticas,
simplesmente porque, pelo seu caráter forte (arrogância de um jovem de 41
anos), nunca aceitou se submeter aos esquemas e “mensalões” do Congresso que,
em 2006, assistimos estarrecidos na TV. Tudo rápido e simples, tiraram o homem
de cena sem choro nem vela. O primeiro presidente da República eleito pelo voto
direto após 29 anos, Fernando Collor de Mello, teve seus atos “ilícitos”
julgados publicamente e, de acordo com o depoimento do senador Pedro Simon
(PMDB-RS), “nunca criou nenhum obstáculo para que a CPI que investigou seu
tesoureiro PC Farias” os apurasse, fornecendo-lhe, ao contrário, o apoio
necessário do aparelho policial a ele subordinado. O então presidente do
Supremo Tribunal Federal (STF), Sydney Sanches (o Joaquim Barbosa da época, no sentido de
politização do Judiciário), comandou a sessão do Congresso em que o chefe do
governo foi cassado - e fez vista grossa para a ilegalidade flagrante da recusa
em aceitar a renúncia do presidente, encaminhada em texto de próprio punho
antes do julgamento. Collor foi impedido (sofreu golpe de Estado), perdeu os
direitos políticos por oito anos e nunca foi condenado a coisa alguma pelos
crimes pelos quais foi punido com a perda do mandato. Mas, ainda hoje, a grande mídia mente aos desavisados de plantão e execra o ex-presidente Collor sem nem bem saber o porquê, acusando-o
de modelo e exemplo de uma grande “corrupção institucionalizada”; mas ao mesmo
tempo, estranhamente, não sabem identificar um único exemplo de corrupção,
esquecendo até que Collor ganhou todas as ações contra ele na Justiça, sendo
inocentado de todas as acusações que lhe foram imputadas. É isso que Janot,
irmão do procurado, tentou explorar. Mas, sinceramente, acho que vai se dar mal
nessa história toda...
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