quinta-feira, 29 de abril de 2010

Hildeberto Aleluia

Ao Estado Tudo? Menos

Agência Rio de Notícias

Sempre tive medo do Estado. Nunca confiei no Estado. Sou contra à idéia do Estado forte atuando como agente econômico na ponta do mercado. Não chego a ser um neo-liberal, na concepção clássica onde se consagra o principio de ao mercado tudo. Não, nesse assunto sou coluna do meio, ou flex , isso para não dizer que cada caso é um caso. Mas vamos à história:
Dia desses, eu via TV, um jornal. E lá o vice-presidente da Republica, o ínclito mineiro José Alencar, mais admirado por sua convivência com a doença que por qualquer outras de suas múltiplas virtudes, recomendava a todos os brasileiros fazerem o exame de pet, que segundo ele, detectava câncer. Como ele mandou todos os brasileiros realizarem o exame eu imaginei que o SUS fizesse. Fui saber o que era isso. Meu medico recomendou que o fizesse, não só pelo meu histórico genético familiar e também pela idade.
Trata-se de um exame de última geração chamado PET CT. É coberto por poucos planos de saúde e custa em torno de 4 mil reais. Realmente é uma maravilha da tecnologia. Ele varre seu corpo por inteiro e dá ao médico uma visão profunda, permitindo um diagnóstico preciso de suas células, além de uma avaliação adequada de sua qualidade de vida agora e no futuro. Trata-se de um exame com tecnologia nuclear em todas as suas etapas. Para realizá-lo é necessário a ingestão de uma substância chamada FDG 18 F que é produzida,diariamente,no Fundão pelo Instituto de Energia Nuclear (IEN), da Comissão Nacional de Energia Nuclear, (CNEN), órgãos estatais pertencentes ao Ministério da Ciência e da Tecnologia. Essas substâncias são importadas e o manejo e venda é monopólio do Estado. Nas instruções de procedimentos para realização do exame, fornecidas pelo laboratório tem uma advertência ressaltando que “ocasionalmente pode haver um atraso,ou outro imprevisto na entrega do material. Delicada forma de avisar que o atraso e imprevistos acontecem sempre. Neste caso tentaremos entrar em contato com o paciente o quanto antes para que os horários dos exames possam ser adaptados”. Explicações dignas do preço cobrado. Mais embaixo havia uma outra dizendo que após a encomenda do material o exame não pode ser desmarcado. Ou seja, se você não puder ir vai perder a grana.
Em jejum, às 10 horas da manhã,quando me preparava para sair de casa o celular me avisa através de uma voz ansiosa que o exame atrasaria e que eu retardasse minha chegada em mais uma hora. Houvera um problema no fundão e o IEN atrasara a entrega da substancia. Próximo das 11 horas outro telefonema com desculpas e mais um atraso de uma hora.Mas eu já estava no hospital e já tinha levantado o telefone do tal IEN e nome dos responsáveis pelo processo. Liguei, disse que eu era medico responsável do Samaritano, onde eu estava, e a atendente, sem papas na língua entregou tudo:
- pois é doutor, o senhor já sabe como é isso aqui. De novo o fulano não veio trabalhar, o chefe dele está viajando e a turma aqui só chegou pela manhã e por isso a substância não foi feita de madrugada, na hora devida.
Ali, no quarto andar do hospital Samaritano, tido como a catedral médica do Rio, eu e mais 4 pacientes, em jejum desde o dia anterior, pacientemente aguardávamos que os agentes do Estado brasileiro, num setor monopolista, se mobilizassem para cumprir a tarefa como se estivéssemos em Cuba ou na extinta União Soviética. Descobri também que a pratica faltosa é comum. Descobri que a substância é importada do Canadá onde o exame custa metade do preço e os funcionários responsáveis pelo manuseio não faltam ao trabalho. Existe coisa pior, pensei.
Será no dia em que o funcionário faltoso errar na mistura. Conformei-me.
Não contente fui em busca de uma fonte qualificada do setor. Disse-me ele que o conjunto de atividades da área nuclear que hoje estão sob a égide do Ministério da Ciência e Tecnologia vegeta, com níveis mínimos de sobrevivência. Ele quer dizer com isso que o Estado apenas paga os salários mas não existem recursos para pesquisas e outras atividades e sentencia:
-o IEN, juntamente com o IPEN de São Paulo e o CDTN de Belo Horizonte, além de outros Institutos como o de Radiometria e Dosimetria e o Centro Agrícola de pesquisas Nucleares são órgãos desconhecidos da sociedade no que diz respeito ao que fazem e porque fazem. o IPEN como está na USP é um pouco melhor.
Na visão de minha fonte, esses pequenos problemas aqui citados, aliados a outros, bem maiores são os indicadores de que está na hora de rever o monopólio no setor.

Hildeberto Aleluia é jornalista


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