domingo, 4 de dezembro de 2016

VALORES INVERTIDOS?

É inquestionável que a delação premiada tem sido decisiva para o eficaz combate à corrupção.
Porém, na moldura de seu quadro existem aspectos discutíveis que podem, até, influir na formação do caráter de uma pessoa.
Os militares , por exemplo, não vêem com bons olhos o delator.
Na Convenção de GENEBRA, os prisioneiros de guerra estão garantidos pelo que podem declarar e a tortura é abominada. Na prática, não é o que se observa haja vista o radicalismo e o justiçamento feito pelo Estado Islâmico.
Durante os governos militares o “dedurismo” foi condenado, inclusive por civis, e artistas consagrados chegaram a ter suas promissoras carreiras precocemente encerradas, injustamente, por serem considerados “colaboradores”.
MARCELO ODEBRECHT, com livre trânsito nos gabinetes de autoridades de todos os níveis, recusou-se, inicialmente, a denunciar pessoas que cometeram, inclusive, crime de maior gravidade. Chegou até a criticar os que aderiram  intempestivamente à delação premiada, razão pela qual permanece na prisão até hoje.
Ocorre que ALBERTO YOUSSEF, condenado a 121 anos e 11 meses em somente 9 processos, teve sua pena drasticamente reduzida para 3 anos com os últimos 4 meses em prisão domiciliar. ODEBRECHT e tantos outros em situação semelhante não tinham outra escolha senão aderir ao “denuncismo”.
Qual será a orientação dos Mestres nas escolas quanto a esta nova problemática? E a educação dos pais no ambiente familiar? Qual a reação das crianças e adolescentes perante seus colegas e a sociedade? Delatar?
Outro assunto polêmico em discussão no Congresso Nacional diz respeito ao abuso de autoridade. Ninguém questiona a autonomia de juízes, do Ministério Público e da Polícia Federal. A independência da magistratura não está em jogo!
Porém,algo deve ser feito para coibir o abuso de juízes venais. Os holofotes da mídia têm atraído vedetes que extrapolam nos seus pronunciamentos e, principalmente, por ocasião de prisões cinematográficas de autoridades que poderiam ser efetuadas com maior discrição. Será necessário humilhá-los antes do julgamento final?
A principal medida anticorrupção,  a nosso ver, seria a devolução, com as correções devidas, de tudo que os criminosos desviaram da população e que deveria ser aplicado na assistência médica, educacional e na segurança pública.
Outro fato, talvez inédito na vida política nacional, foi o de um Ministro de Estado  recém nomeado gravar conversas telefônicas com seus pares e,  principalmente, com o Presidente da República que o acolheu. Não queremos entrar no mérito da questão já que o IPHAN de Salvador  jamais poderia concordar com a construção de um prédio de altura superior à máxima  permitida em sítio histórico da cidade.
Já imaginaram se esta moda pega? Haverá necessidade de instalar detectores de metais nas salas de despachos ou de reuniões governamentais? Serão realizadas revistas nos Ministros e entrevistadores? Gravadores e câmeras instalados ostensiva ou sigilosamente? Qual o clima de confiança  no relacionamento das autoridades? O que e com quem falar? A que ponto chegamos!
Esta inversão de valores é preocupante e pode extrapolar para outros setores, comprometendo, ainda mais, o flagrante desrespeito à autoridade que caracteriza o nosso ambiente e que tanto contribui para a insegurança generalizada.
Diante disto, novas medidas preventivas deverão ser tomadas principalmente na discussão de assuntos sigilosos que possam comprometer a segurança nacional.
O inimigo pode estar a seu lado!
O único consolo é o de nossas Forças Armadas ainda não terem sido contaminadas pelo vírus da delação, da traição, da gravação clandestina, da indisciplina, da desordem e da inobservância dos princípios hierárquicos, morais e éticos. 
Diógenes Dantas Filho- Coronel Forças Especiais/Consultor de Segurança  

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