quinta-feira, 24 de março de 2011

Roberto Saturnino Braga

Obama no Brasil

Pessoalmente, continuo esperando transformações importantes na sociedade americana sob a presidência de Obama. Talvez ele devesse ser mais ousado, como querem muitos, mas é difícil fazer julgamentos desse tipo aqui de longe. O conservadorismo americano passa por uma fase de surpreendente exacerbação; talvez como resultado da própria eleição de Obama. O fato é que, diante desse sentimento tão forte, expressado nas últimas eleições parlamentares, fica realmente difícil avançar, e a prudência sussurra para ter cautela e paciência, esperar pelos melhores dias que certamente virão, provavelmente depois da reeleição e durante todo o segundo mandato. Se não houver reeleição, aí, sim, se pode chorar a tristeza da frustração.
Uma observação pode e deve ser feita, sobre o momento político americano, que serve para todas as democracias do mundo, que clamam por reformas purificadoras. Trata-se da influência cada vez mais forte e decisiva do poder econômico nas eleições de deputados, através do financiamento das campanhas. Em eleições majoritárias de presidente e governador, essa influência existe, é importante também, mas não tão decisiva. A razão, creio, é que nessas disputas de enormes votações, a compra de cabos eleitorais e a compra de votos através de prestação de assistência em várias formas não garante o gigantesco número de votos necessários. Na eleição de deputados essa compra é muito mais eficiente, ela traz os votos necessários, muito menos numerosos, e hoje é quase indispensável. Daí a ânsia dos deputados eleitos em garantir o financiamento para a reeleição, que é o caminho mais comum da corrupção. Daí a dependência cada vez maior dos deputados em relação ao grande capital.
Postas essas preliminares, vamos propriamente à visita: por que veio o Presidente Obama ao Brasil? Bem, quase todos os presidentes americanos dos últimos 50 anos vieram ao Brasil; é natural visitar o maior país do sul do continente. É claro porém que, além do gesto protocolar de boa vizinhança, cada visita tem a sua motivação própria, diferentemente dos presidentes brasileiros que vão ao Norte, sempre para pedir dinheiro, de uma forma ou de outra. No caso de hoje, parece que Obama veio em busca de duas prioridades do seu país para as próximas décadas: a garantia do suprimento de petróleo e a continuidade da hegemonia econômica na América do Sul seriamente ameaçada pela China.
A primeira decorre das dificuldades crescentes que os americanos vão encontrando na região que, há quase cem anos, lhes fornece abundantemente o óleo fundamental, que é o Oriente Médio, e, por outro lado, a descoberta das grandes reservas brasileiras no pré-sal. No atendimento dessa prioridade, os EE. UU. não deverão encontrar dificuldades maiores, desde que não pretendam se sobrepor às políticas de exploração e de exportação traçadas autonomamente pelo Brasil com vistas aos seus interesses. A melhor maneira de garantir esse suprimento é manter um bom relacionamento político em bases respeitosas e democráticas; é de se esperar que eles tenham chegado a esta conclusão depois dos problemas que estão tendo no Oriente. A segunda questão é, a meu ver, mais complicada. O crescimento da China é avassalador e suas relações econômicas, além do espaço natural da Ásia, já bem ocupado, vão naturalmente extravasar para a América do Sul. O nosso comércio com a China já ultrapassou o dos Estados Unidos e os investimentos chineses na região estão sendo gigantescamente projetados.

Roberto Saturnino Braga, ex-senador e atual presidente do ISB - Instituto Solidariedade Brasil

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