sábado, 21 de julho de 2018

Inocência ou amadorismo ?


É inconcebível que detalhes de operações policiais exitosas para desbaratar quadrilhas criminosas sejam minuciosamente informados para divulgação pela mídia.
É dever do militar guardar sigilo sobre os meios e procedimentos empregados para derrotar o inimigo em operações de combate ou de Inteligência. O vazamento dos mesmos antes de sua execução será prenúncio de fracasso. Após a vitória, também não podem ser revelados para negá-los ao oponente e preveni-los em ações deletérias futuras.
Nem todos podem ter conhecimento de tudo!
Existe uma Seção de Informações em todos os Comandos, com pessoal treinado e especializado, para fazer este controle e definir quem pode conhecer assuntos sigilosos e procedimentos para surpreender o inimigo.
É inadmissível dar munição a bandidos!
Em face dos baixos salários, inúmeros soldados residem ou foram criados em comunidades carentes onde constituíram o seu círculo de amizades. É natural e compreensível que procurem preservá-los se tiverem conhecimento prévio que será realizada uma operação policial na região. Este aspecto tem que ser considerado para a necessária manutenção do sigilo.
Criminosos de alta periculosidade por serem de menor idade (?)  não têm seus rostos expostos e outros procuram escondê-los quando são presos. Será que a população não merece conhecê-los? Não seria uma forma de protegê-la?
Na madrugada de 14 de junho foi desencadeada em São Paulo primorosa operação de Inteligência contra uma das maiores facções criminosas do País, com mais de 30 mil integrantes, atuando em vários Estados e faturando mais de 400 milhões  de reais por ano.
Com autorização judicial, o Ministério Público e a Polícia Civil, com cerca de 300 policiais, cumpriram mandados de busca, apreensão e 75 de prisão.
As ordens eram expedidas de dentro dos presídios por celulares e mensagens transmitidas por visitantes e advogados de defesa, incluindo sentenças de morte, sequestros, agitações urbanas, motins e prestações de contas do tráfico de drogas e de armamentos.
 As demonstrações de força da facção não se limitavam ao desrespeito às autoridades de São Paulo. Tinham raízes também no Paraná, Mato Grosso e Minas Gerais, onde comandaram as depredações e incêndios em dezenas de ônibus.
Os resultados foram excelentes mas não precisavam revelar como as provas foram obtidas.
Para que dizer, por exemplo, que os papéis jogados nas privadas pelos líderes da organização criminosa foram recuperados com legibilidade por terem sido colocadas telas nas tubulações para retê-los antes de caírem na rede de esgoto.
Este erro os bandidos não mais cometerão! Terão maior cuidado na destruição e transmissão de suas mensagens.
Os traficantes agradecem mais este ensinamento generosamente fornecido por policiais boquirrotos e pela ampla difusão na mídia.
Que inocência! Os policiais não são amadores!
O sucesso de qualquer investigação depende da inovação e do sigilo.
Os êxitos e as provas de operações bem sucedidas devem ser amplamente divulgadas.Todavia, jamais devem ser revelados os meios utilizados para consegui-las.
A ausência de cultura de proteção ao conhecimento facilita  o acesso de dados relevantes aos oponentes.
DIÓGENES DANTAS FILHO- Coronel Forças Especiais/Consultor de Segurança.

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