quinta-feira, 26 de julho de 2018

Agouros e maldições


Aylê-Salassié F. Quintão*
Agosto está aí: semana que vem. É o mês dos agouros e dos azares. As igrejas e os terreiros de umbanda ficam cheios de políticos pedindo proteção. Pelo menos, 100 parlamentares, com rastros na Lava Jato, vão ser julgados pelas urnas e, se eleitos, poderão ter os mandatos cassados pelo TSE.
O governo nada como um cisne em águas turvas, aproveitando os recessos do Legislativo e do Judiciário. Agosto, ora! Isso é crendice popular! Vale lembrar que Getúlio suicidou-se em agosto, Dilma caiu em agosto, o embaixador Sérgio Vieira de Melo morreu em agosto, a segunda guerra começou em agosto, as bombas atômicas que explodiram no Japão aconteceram em agosto e outros milhares de eventos dramáticos ocorreram nesse malfadado mês.
Há semanas, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, prorrogou por 60 dias a remessa ao Supremo dos resultados do inquérito que apura a assinatura, pelo Presidente Temer, de um decreto beneficiando a empresa de transporte marítimo Rodrimar, administrada com o apoio de amigos seus. O Presidente teria sido contemplado com a reforma, gratuita, da casa da filha em São Paulo. O processo pode entrar em pauta no Supremo já em meados de agosto. A denúncia está praticamente pronta.
Desde que tomou posse como Presidente, o vice Temer está na berlinda. No ano passado os analistas políticos profetizavam o seu impedimento, após a análises no Judiciário, de denúncia do Ministério Público. Por meio de ardis sucessivos, o Congresso negou, duas vezes, dar autorização ao STF para julgá-lo. Temer era acusado de receber propinas de empresários, em encontros reservados dentro do Palácio do Jaburu, residência oficial. Em seguida, por irregularidades cometidas pela chapa Dilma-Temer. O exame das acusações vindas da Procuradoria está agora entre os ministros Edson Facchin e Alexandre de Morais . O encaminhamento do processo ao Supremo estava marcado para 2 de agosto. Ficou para uma data entre 15 e 20 de agosto.
Embora o Presidente e os demais envolvidos aleguem inocência, dificilmente poderá contar com uma maioria parlamentar para barrar o julgamento pelo STF, provavelmente em agosto. Os congressistas estão preocupados com as eleições e com os mandatos. Cerca de 180 deles estão arrolados nos processos de corrupção da Lava Jato. Pelo menos 100 pleiteiam a reeleição. 
Será, portanto, complicado para o vice Temer repetir a façanha anterior, que desautorizou o Supremo a julgá-lo. A maioria dos parlamentares não quer ser vista sequer como próxima ao governo. Para se safar , Temer terá de recorrer ao tapetão, como fez no Superior Tribunal Eleitoral . 

Tudo indica que tudo isso vá ocorrer no mês de agosto, marcado sistematicamente por centenas de acontecimentos aterrorizantes em muitos países. O 13 de agosto é lembrado como o dia de todos os Exus no candomblé brasileiro, que o cristianismo estigmatizou como o dia dos maus agouros. O 24 de agosto é adotado em quase todo o mundo como o “Dia do Azar”. Em agosto, os brasileiros vão estar, portanto, diante do julgamento de um Presidente, por corrupção, ou da maldição que o cargo de vice -presidente carrega no Brasil desde a Proclamação da República. Em 50, dos 129 anos republicanos , o país foi governado por vices.

Aylê-Salassié http://spaces.msn.com/ayleq

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