terça-feira, 15 de abril de 2014

Collor ganha na Justiça indenização contra eterno golpismo da “Veja”

“Justiça tarda, mas não falha”, como se diz. Transitou em julgado ação contra a Editora Abril. O ex-presidente Collor ganhou em última instância pelas ofensas morais publicadas contra ele na “Sujíssima Veja” (expressão perfeita do grande Helio Fernandes), dos Corleone/Civita. O panfletinho político vai ter que indenizá-lo, com as devidas correções, em algo que passa de R$ 1 milhão. É pouco, mas simbólico. E pode servir de exemplo nesses tempos bicudos de golpismos midiáticos. Segundo informações da Conjur, o "artigo de opinião" intitulado "O Estado Policial", publicado em março de 2006, replicado na internet, comparava atitudes dos governos Collor e Lula: “no primeiro, diante das denúncias feitas pelo motorista Eriberto França; no segundo, em relação às denúncias do caseiro Francenildo Costa. Durante as comparações, o articulista falou sobre as "traficâncias" de Collor e o chamou de `corrupto desvairado`.” Collor ajuizou ação de indenização por danos morais, alegando que havia sido atingido por "uma série de calúnias, injúrias e difamações". A decisão final do Superior Tribunal de Justiça foi tomada por algo óbvio: Collor foi absolvido de absolutamente todas as acusações de corrupção relacionadas ao processo que redundou em seu impeachment, em 1992. Aliás, alguém se lembra porque, efetivamente, Collor foi deposto? Quando o motorista Eriberto França foi usado como respaldo para as denúncias sobre o “esquema PC Farias”, o PT automaticamente encampou a história, a CPI tomou força e Collor acabou deposto por “golpe de mestre” das elites políticas. Isso porque, pelo seu caráter forte (arrogância de um jovem de 40 anos), nunca aceitou se submeter aos esquemas e “mensalões” da vida no Congresso. Tudo rápido e simples. Eu nunca gostei politicamente dele, mas há que se reconhecer: tiraram o homem de cena sem choro nem vela e de forma ilegal. O primeiro presidente da República eleito pelo voto direto, após 25 anos, teve seus atos ditos “ilícitos” julgados publicamente. E, de acordo com o depoimento do senador Pedro Simon (PMDB-RS), notório adversário de Collor, realmente o presidente “nunca criou nenhum obstáculo para que a CPI que investigou seu tesoureiro PC Farias fizesse suas investigações". Pelo contrário, Collor forneceu todo apoio necessário do aparelho policial a ele subordinado para que as investigações fossem avante. O então presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Sydney Sanches (o Joaquim Barbosa da época, no sentido de politização do Judiciário), comandou a sessão do Congresso em que o chefe do governo foi cassado - e fez vista grossa para a ilegalidade flagrante da recusa em aceitar a renúncia do presidente, encaminhada em texto de próprio punho antes do julgamento. Collor já falou disso em entrevista a Paulo Henrique Amorim. O então presidente foi impedido (sofreu golpe de Estado), perdeu os direitos políticos por oito anos e nunca foi condenado a coisa alguma pelos crimes pelos quais foi punido com a perda do mandato. Mas, ainda hoje, algumas pessoas mal intencionadas execram o ex-presidente sem nem bem saber o porquê, acusando-o de “modelo e exemplo” do que seria uma grande “corrupção institucionalizada”. Ao mesmo tempo, estranhamente, não se sabe identificar um único caso de corrupção, esquecendo-se até que Collor ganhou, repito!, todas as ações contra ele na Justiça. E, quando muito, restou somente uma única acusação e o que seria o "grande" exemplo de corrupção: um Fiat Elba. Não se trata aqui de tentar inocentar o ex-presidente Collor. A Justiça já fez isso. Mas tão somente de se fazer justiça histórica e uma constatação: todo o alarde em torno de um propalado “mar de corrupção” da administração Collor resume-se a uma grande campanha de mídia, capitaneada pela canalha da revista “Veja”, como a Justiça agora reconhece. 


Parece até uma vingança surrealista dos carros nacionais, chamados de “as carroças” por Collor, diante do processo de abertura e modernização iniciado pelo então presidente e que provocou o ódio de setores acomodados do empresariado. É isso mesmo. Todo esse alarde de "mar de corrupção", só por causa de um reles Fiat Elba, acusação feita a um homem rico desde o nascimento que, com certeza, não iria se sujar por tão pouco. A verdade é que PC Farias não tomou um único centavo do governo ou de verbas públicas. Nada que se aproxime do que ocorreu – e ocorre? - com a compra descarada de votos para a emenda da reeleição de FHC ou o “mensalão” de Lula. O grande crime de PC – não de Collor - foi realmente tomar dinheiro de particulares, de empresários. Todo o dinheiro que ele arrecadou e amealhou antes, durante e depois da campanha, era dinheiro de empresários, que deram a Collor para ter seus interesses protegidos, mas que Collor simplesmente ousou atropelar, a começar por Roberto Marinho e os Civitas. E por isso foi sacrificado, vilipendiado, execrado e tirado à força da Presidência da República. Assim como a Globo e a Veja ajudaram a construir a candidatura Collor para ser o anti-Lula, logo que perceberam que o presidente não iria comer em suas mãos, começaram a campanha para apeá-lo do poder. Quer dizer: no caso de Collor não houve o aparelhamento do Estado, a utilização de verbas públicas para compra de parlamentares, a utilização e desvio de dinheiro dos institutos de pensão e toda a recente ignomínia de FHC, Lula e Dilma, por exemplo. Collor caiu porque não aceitou isso. E tudo é solenemente esquecido até hoje. É por isso que, quando se comemorou os 15 anos do “Código do Consumidor” (a coisa realmente mais importante do governo Collor) não se ouviu ninguém dizer que foi Collor que o instituiu. Parece coisa de “pogroms” soviéticos que eliminavam os nomes indesejáveis do partido comunista dos livros de História e das fotografias oficiais. É isso!

Said Barbosa Dib é analista político e historiador em Brasília

Leia, aqui, a íntegra do acórdão.

Leia também reportagem do portal Conjur sobre as circunstâncias do processo.

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