sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Hildeberto Aleluia

O FIM DE UMA ERA

Foi-se o Jornal do Brasil tal e qual conhecíamos. Desfigurado e empobrecido, agonizou sem merecer os cuidados dedicados aos anciões. Na sucessão familiar no controle da empresa editora foi-se também o pouco que restava da identidade com o seu público leitor. A nova era da comunicação nem se anunciava e o velho JB já tentava encontrar novos caminhos. Era preciso sustentar os números de vendas e defender-se do implacável poder de renovação e aceitação da concorrência. Acossado pelo jornal O GLOBO de um lado e do outro por O DIA (esse, atualmente, também em queda livre) o Jornal do Brasil perdeu-se num território minado, onde era farto o talento na redação, mas escasso na área de gerência e marketing. Sem controle e sem comando foi afundando como um grande navio, aos poucos, sucumbindo a uma administração caótica e às inovações tecnológicas. No final, teve ampla e generosa ajuda dos governos, a ponto de comprometer a qualidade do jornalismo. Ficou como prova de que o leitor não é burro. Verbas de governos não salvam jornais. Agora parte para sua etapa derradeira, a edição digital, paga. Pode ser o fim definitivo. Oxalá seja esse o caminho! As experiências que vêm sendo realizadas nos Estados Unidos, Austrália e na Inglaterra não são nada animadoras. Na Inglaterra, segundo a revista “THE ECONOMIST” cerca de 70 jornais fecharam suas portas no biênio 2008/2009 e ninguém sentiu falta. Com extrema cautela, os grandes jornais do mundo vêm desenvolvendo modelos de transferência da plataforma impressa para a digital, paga. Os gigantes da mídia impressa, capitaneados pelo senhor Murdoch, o titã midiático do século XXI, buscam, desesperadamente, o novo caminho. Como sabemos, o mundo inteiro acompanha com atenção a experiência. O que acontecer lá vai orientar todo o setor nos quatros cantos do planeta. Ao que parece, quanto mais tentam, mais se distanciam de uma solução satisfatória para o futuro de seus jornais impressos. O The New York Times (NYT), um dos mais arrojados na busca do novo caminho, estreou para o grande público da WEB introduzindo a assinatura digital e cerceando o acesso gratuito de todas as formas ao conteúdo. Inovou, junto com o The Financial Times e o Wall Street Journal permitindo o primeiro e segundo clique gratuito passando a cobrar de acordo com o interesse do internauta em se aprofundar na leitura. O NYT vem perdendo receita e circulação numa espiral assustadora. A empresa editora vem abrindo mão do controle de jornais menores em outros estados americanos e mesmo assim sua dívida não para de crescer. Já passa de um bilhão de dólares. Já vendeu sua sede e incorporou o milionário mexicano Carlos Slim como sócio. Nada disso tem assegurado tranquilidade à família controladora. Recentemente o The New York Times recuou e liberou o acesso gratuito quando buscado através dos sites de relacionamento, como Facebook, Twitter e outros. Foi uma decisão difícil. A instituição da cobrança online diminuiu drasticamente os acessos de visitantes. Até que ponto esta liberação pode comprometer todo o esforço de implantação do sistema de cobrança digital? Ainda não se tem a resposta. Um dado curioso é que todos esses grandes jornais já limitaram o acesso dos leitores no passado, só permitindo àqueles da base de assinantes. Depois de alguns poucos anos liberaram o acesso total e agora partem para essa experiência de clique. Quem marcha numa vertente contrária é o jornal THE GUADIAN, de Londres. Todo acesso é gratuito. O certo é que o velho modelo de venda de espaço publicitário mais circulação já não sustenta a velha mídia.

Hildeberto Aleluia é jornalista

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