sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Eleição para o Senado no Amapá: substituição de um estadista

Por Said Barbosa Dib*

O Senado representa o Pacto Federativo. Defende a igualdade de condições políticas entre os entes federados, combatendo desigualdades regionais e desequilíbrios entre os estados. A função de um senador é fundamentalmente a defesa do estado em Brasília. Não adianta nada ficar dias e dias fazendo pronunciamentos prolixos no Plenário do Senado sobre temas universais ou em defesa de minorias ou direitos abstratos da Humanidade, assuntos mais adequados aos parlamentares escolhidos por voto proporcional (deputados). Pode até fazê-lo vez por outra, mas, definitivamente, esta não é a função principal de um senador. O senador tem que lutar por recursos federais para o estado, tem que participar de comissões, fazer projetos e deliberar sobre assuntos que defendam seu ente federativo. Em 2006, o Amapá elegeu dois senadores que se enquadram mais ao primeiro tipo: o senador “blá-blá-blá”. Mas, é muito importante para estados pequenos e jovens, como Amapá, Acre ou Roraima, com apenas oito deputados, que seus senadores se destaquem mais do que é exigido dos parlamentares dos estados mais poderosos, como Minas, São Paulo ou Paraná. Sarney, estadista calejado que enfrentou lobbys poderosos dos estados ricos do Sul/Sudeste, para implantar a ALCMS – Área de Livre Comércio do Macapá e Santana, desempenha este papel com competência. Também tem a capacidade de unir diferenças e convergir forças para o bem comum. Sempre fez questão de dar todo apoio ao Executivo estadual em suas demandas em Brasília, independente de cor partidária ou do humor daqueles mais emburrados diante do sucesso dele, como o ex-governador Capiberibe. O fato é que, tanto governadores anteriores quanto o atual, prefeitos dos 16 municípios, deputados estaduais e vários vereadores, assim como toda a bancada do estado no Congresso, sempre tiveram no gabinete de Sarney, em Brasília, verdadeira embaixada do estado junto aos órgãos federais. Tudo de relevante que foi discutido sobre os interesses do Amapá na Esplanada dos Ministérios sempre passou pelo gabinete do ex-presidente. Gabinete que um certo candidato ao Senado, por exemplo, sempre frequentou quase diariamente, pedindo favores e conselhos ao Sarney. Por outro lado, todos os anos o ex-presidente, exemplo do tipo ideal de senador, fica na lista dos “10 mais” entre “Os 100 Cabeças do Congresso” do DIAP – Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar. Além de ter participado de todas as edições dos “100 mais influentes”, é o único que fez parte do seleto grupo dos “10 mais” por quatorze vezes, nas edições de 1996, 1997, 2003, 2004, 2005, 2006, 2007, 2008, 2009, 2010, 2011, 2012, 2013 e 2014. Tal desempenho, aliado ao fato de Sarney ter grande prestígio junto aos governos Lula e Dilma, vem ajudando muito o Amapá. Em 2008, por exemplo, a sua atuação foi destaque no tradicional O Estado de São Paulo. O jornal fez levantamento dos parlamentares que mais conseguem recursos para seus estados. Não deu outra: Sarney apareceu como o que teve mais sucesso nos seus pleitos. Veja o que diz o jornal o Estado de São Paulo: “O campeão é o senador José Sarney (PMDB-AP), um dos principais aliados do presidente Lula. Segundo o levantamento, entre 2003 e 2006, por exemplo, o senador José Sarney (PMDB-AP) apresentou 43 emendas e conseguiu liberar R$ 10,49 milhões, numa demonstração da sua vitalidade política”. Todas as emendas foram destinadas ao Estado do Amapá. De 1995 a 2006, segundo ainda o jornal “O Estado de São Paulo”, entre recursos derivados de emendas individuais e de bancada, além de outros do Orçamento da União, o peso político do senador Sarney fez com que fossem liberados e pagos R$ 305.498.212 para o Amapá, um dos melhores desempenhos da Região Norte. De 2009 a 2012, Sarney destinou, em emendas ao Orçamento da União, o total de R$2.328.385.004,00, sempre em áreas sociais importantes. Como se vê, o povo do Amapá não vai apenas substituir um senador qualquer no domingo (05/10). Vai escolher alguém que ocupará a vaga de um estadista, alguém que terá que ter a envergadura política e moral a altura de Sarney. Entre um candidato jovem e inexperiente que sempre pertenceu ao que se chama em Brasília de “baixo clero” da Câmara dos Deputados, um conjunto de outros candidatos que sequer ocuparam cargos eletivos e um ex-senador experiente, com grande afinidade, assim como Sarney, com a presidente Dilma (e que sempre esteve ao lado de Sarney em Brasília), tenho certeza que o povo tucujú não pensará duas vezes: escolherá o último.  


Said Barbosa Dib é historiador e analista político em Brasília

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