Este primeiro parágrafo compõe um artigo que me foi solicitado pelo jornal Folha de S. Paulo, cuja veiculação ocorreu em outubro de 2014, dias antes do segundo turno eleitoral. É dramaticamente atual. Há tempos alertei para a falta de diálogo do Executivo com o Congresso Nacional. Sempre procurei manter com o governo uma posição de interlocução institucional. Não só diretamente com a presidente da República – raríssimas vezes, é verdade, e não por minha vontade –, mas também com os diferentes ministros da Casa Civil.
Tentei levar minha experiência como ex-presidente e a percepção, como senador em exercício, da necessidade de uma maior efetividade nas ações políticas e institucionais com o Poder Legislativo, em contraposição a uma menor atuação meramente publicitária junto à população. Desde 2012 venho chamando a atenção para o esfacelamento institucional do País, para os conflitos entre os seus poderes, o empoderamento de órgãos auxiliares e o paradoxo da legitimidade versus credibilidade nos poderes da União. O tempo e o presente quadro de degradação do País me deram razão.
Ficamos carentes não só de política econômica, mas também de economia política. O resultado de poucos anos de má gestão, devemos reconhecer, é toda uma década perdida. As pessoas se aperceberam e as ruas se mani-festaram. A crise espraiou-se. A política esvaiu-se e a economia tornou-se caótica. Levaremos tempo para resgatar tudo de positivo, em todos os segmentos, que foi alcançado pelo País desde a sua redemocratização. Mais ainda, levaremos tempo, talvez uma geração inteira, para recuperação deste certeiro golpe na população brasileira.
Seja qual for o resultado do atual processo de impeachment, precisamos começar a pensar o futuro. O governo, qualquer que seja, terá que se reinventar e o Estado brasileiro, reconstruído. A população não mais concordará com improviso, não mais aceitará amadorismo e, menos ainda, o fisiologismo que humilha a classe política no Brasil. Precisamos readquirir o encanto com a missão pública, bem como resgatar o básico da liturgia dos cargos, da respeitabilidade dos palácios e da moderação das autoridades. Precisamos de um novo modelo econômico e de um novo Estado. Precisamos, enfim, de uma nova política.
Eis a razão pela qual apresentei ao Senado Federal, após entendimento com os integrantes do Bloco Moderador, a proposta “Brasil: Diretrizes para um Plano de Reconstrução”, cuja íntegra já pode ser acessada no endereço fernandocollor.com.br. A fonte inspiradora do documento é o Projeto de Reconstrução Nacional que apresentei ao País em 1991, por ocasião da passagem do primeiro ano do meu governo. Trata-se de um elenco atualizado de diagnósticos, princípios e medi-das a serem discutidos, aperfeiçoados e implantados, de forma a permitir que o País retome o caminho do desenvolvimento eco-nômico e social.
Restrinjo-me aqui a apresentar as linhas mestras desse plano, como subsídio à classe política e a um futuro governo, seja ele qual for. Destaco o primeiro item: A Reforma Política, com sistema parlamentar de governo. Aos que alegam que o Brasil não pode adotar o parlamentarismo por não possuir partidos fortes, é preciso dizer que, na realidade, o Brasil não possui partidos fortes por não ser parlamentarista. O segundo item: o Papel do Estado, a quem caberá recriar as condições macroeconômicas e prover, em trabalho conjugado com a iniciativa privada, as infraestruturas econômica, tecnológica e educacional necessárias à reestruturação competitiva das empresas.
Destaco também as Prioridades para a Reconstrução Nacional, com a reestruturação competitiva da eco-nomia, a observância da cidadania e dos direitos fundamentais e a inserção do Brasil no cenário internacional, porque não há projeto nacional viável sem vinculação eficaz com o mundo. Esta eficácia depende, sobretudo, da credibilidade do País, o que torna a diplomacia instrumento indispensável para materializar as aspirações nacionais. Com a proposta apresentada, espero estar colaborando com os rumos do País, a partir do desfecho político a ser tomado em breve pelo Senado Federal, seja ele, repito, qual for.
Para o discurso: https://youtu.be/DdVd1wXAzgY
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