quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Said Barbosa Dib

Cobertura tendenciosa. Perde a sociedade, perde o jornalista...

Há um péssimo hábito por parte de alguns jornais de denegrir a história de figuras de destaque do cenário político nacional apenas para garantir alguma atenção por parte dos leitores. Tal costume desrespeita a inteligência dos leitores e acaba maculando a profissão dos próprios jornalistas que, como empregados das empresas, acabam se expondo. A matéria “Sarney faz consultoria de imagem com verba pública” (22/11), da Folha de S. Paulo, é sintomática. Sem qualquer base nos fatos e de forma dirigida e irresponsável, faz a seguinte afirmação acerca do presidente Sarney: “Envolvido em escândalos administrativos nos últimos anos, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), quer mudar sua imagem pública”. O leitor desavisado, submetido à correria do dia-a-dia, tende a ler apenas as manchetes e leads (“cabeça”) das matérias. Tende a acreditar no que foi afirmado. Se tiver tempo para ler, verificará que o conteúdo em nada compromete o senador. E aí que mora o problema. Sarney jamais foi condenado por qualquer desvio de conduta ou ilícito penal. Pelo contrário. Foi governador, deputado e senador pelo Maranhão, presidente da República, senador do Amapá por três mandatos consecutivos, presidente do Senado Federal por três vezes. Tudo isso, sempre eleito. São mais de 50 anos de vida pública sem nunca ter tido qualquer problema com a Justiça. Mas, o jornal, ao afirmar que Sarney estaria “envolvido em escândalos”, sonega ao leitor a verdade, pois não explica que absolutamente todas as denúncias feitas contra Sarney em 2009, véspera de ano eleitoral, foram prontamente desmentidas pela Assessoria de Imprensa da Presidência e desqualificadas, tanto pela Comissão de Ética do Senado Federal, quanto pela Polícia Federal, o Tribunal de Contas da União e a Procuradoria Geral da República. Todas, instituições públicas chamadas pelo próprio presidente Sarney a promoverem apurações sobre as ditas denúncias. Denúncias, aliás, que foram devidamente arquivadas por falta de provas e fundamento, pois não apresentavam nenhum documento. Apenas repetiam notícias de jornais. Como é de amplo conhecimento, aliás, todas as providências e esclarecimentos — sempre pautados em documentos — podem ser acessados no link: http://www.senado.gov.br/senado/presidencia/anexos/verdade3.swf.
Se o jornal, ao falar de “denúncias’, se refere aos chamados “atos secretos”, cai em contradição, pois não se pode esquecer que a primeira notificação a respeito foi feita pela Fundação Getúlio Vargas, em entrevista coletiva realizada no Gabinete da Presidência do Senado, no dia 12 de maio de 2009. Contratada pelo presidente Sarney para elaborar projeto de reestruturação administrativa da Casa, a Fundação detectou boletins administrativos sem a devida publicidade legal. A reportagem do jornal O Estado de São Paulo sobre o assunto é de 10 de junho. Quer dizer: o presidente Sarney foi quem mandou averiguar o problema e não tinha conhecimento de que havia atos não publicados na Intranet do Senado Federal. Tão logo soube do fato, mandou apurar essas e outras irregularidades. E os responsáveis responderam a inquérito e foram punidos na forma da lei.
A verdade é que, a elaboração, investigação ou edição de uma notícia de forma dirigida, parcial ou preconcebida, para atender a determinados objetivos e interesses de repórteres e jornais, é algo já bastante estudado e debatido. Há mesmo quem afirme que entre os grandes veículos, antes que uma falha individual de conduta ética por parte do repórter, isso é uma prática imprescindível para o funcionamento das redações e editorias (pode?). Quem é da área sabe do que estou falando. É a velha e eficiente manipulação, o que os próprios profissionais da imprensa chamam de “plantar notícias”, ou seja, determinadas informações, não necessariamente verdadeiras, propositadamente publicadas para serem desmentidas depois ou, pelo menos, comentadas, quando o estrago já foi feito. A notícia “plantada” não segue a tramitação normal de apuração. É forjada na própria redação do órgão de imprensa, para provocar questionamentos que propiciem novas informações jornalísticas importantes. Uma espécie de catalisador noticioso. E quem perde com isso tudo, além da cidadania, é o próprio jornalista que, como empregado, não pode fazer frente aos lobbys que financiam as empresas de comunicação. Lamentável!

Said Barbosa Dib é historiador e analista político em Brasília.

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