O hoje é livre
“O dia começou de forma natural. Acordamos em nosso tempo e fomos para um templo mágico. Ao entrar naquele espaço foi possível perceber que o dia seria diferente. Seres iluminados nos esperavam por lá. A energia foi total. Voltamos para Brasília para o teste de som e luz da cópia, no Cine Brasília. Tudo OK com a película. E o filme se tornou ainda mais forte em tela aumentada. A fotografia tomou seu lugar de protagonista no filme. Texturas e luzes mágicas, sensoriais, de sonho e liberdade. A energia do agora preencheu o cinema. Sons de Nana Vasconcelos ecoavam no coração das quatro testemunhas daquele momento mágico”.
“O dia começou de forma natural. Acordamos em nosso tempo e fomos para um templo mágico. Ao entrar naquele espaço foi possível perceber que o dia seria diferente. Seres iluminados nos esperavam por lá. A energia foi total. Voltamos para Brasília para o teste de som e luz da cópia, no Cine Brasília. Tudo OK com a película. E o filme se tornou ainda mais forte em tela aumentada. A fotografia tomou seu lugar de protagonista no filme. Texturas e luzes mágicas, sensoriais, de sonho e liberdade. A energia do agora preencheu o cinema. Sons de Nana Vasconcelos ecoavam no coração das quatro testemunhas daquele momento mágico”.
Joana Limongi
O filme A Descoberta do Mel estreou mundialmente no 42º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, em 22 de novembro de 2009, domingo de sol na Capital do País. No Cine Brasília, a família Limongi garantia o primeiro lugar na fila. E todos foram chegando: elenco, equipe técnica, amigos. Aquela tarde ficaria marcada para sempre como um momento de beleza e luz. Antes da sessão, todos puderam degustar um pouco de mel, distribuído pela equipe do filme. A ausências físicas estavam conosco em energia: o mago Naná Vasconcelos, o Satyro Mariano Mattos, o montador Grilo e o técnico de som Pablo Lopes. A sessão tem início com casa cheia e público curioso. Ao final da exibição, burburinho na sala de cinema. O filme mexeu com o público, que não conseguiu se calar diante de tanta instigação.
"Sinto que o filme assusta e me sinto segura. Para mim é um cosmos, bem organizado. É maravilhoso que o filme assuste. Não é um filme fácil. É um filme de arte. É perfeito que assuste porque é dionisíaco. É um susto como a vida. A essência é dionisíaca. Dionísio vem para trazer força, é carnal. E isso que é carnal lembra a gente da fragilidade da vida. Por isso o arrebatamento, o espanto. A Descoberta do Mel assusta porque a sociedade está impregnada da moral cristã. E o filme é amoral. Não é imoral. Ele vai além do bem e do mal. Não tem julgamento. Queria ver aquela sala de projeção virando do avesso. E aconteceu", afirma Joana Limongi.
Segue texto do escritor cubano Eliseo Altunaga - chefe da cátedra de roteiro da Escuela Internacional San Antonio de Los Baños (Cuba) - sobre o curta metragem “ A Descoberta do Mel”.
O filme “A descoberta do mel” é uma linda metáfora centrada em quatro elementos: a árvore, a deusa, o mel e o fauno.
A árvore é um dos símbolos vitais da tradição. Entre os celtas, o carvalho era a árvore sagrada; o freixo, para os escandinavos; a tília, na Alemanha; a Figueira, na Índia; o Embondeiro, na África; a Ceiba, no Caribe. A Ceiba era considerada uma árvore sagrada entre as culturas pré-hispânicas da área mesoamericana, como os maias, pipiles, nahuas, taínos. Associações entre árvores e divindades são muito freqüentes em mitologias: Átis, o abeto; Osíris, o cedro; Júpiter, o carvalho; Apolo, o loureiro; Iroko, a Ceiba.
A Ceiba – ou Yaaxché, no idioma maia. O universo se estrutura em três planos que se comunicam através da Ceiba sagrada. Além disso, de acordo com os maias, são os galhos desta árvore que permitem a abertura dos 13 céus.
A árvore representa a vida do cosmos, sua densidade, seu crescimento, sua proliferação, sua gênese e regeneração. Assim como inesgotável vida equivale à imortalidade. Segundo Eliade, o simbolismo derivado de sua forma vertical transforma ato seguido esse centro em eixo.
O fauno, deus pastoral romano, identificado a Pan, associado à idéia de Silvano, deus da natureza selvagem. Ele é também um grande músico e leitor de sonhos. Um amante da natureza e da vida.
Oshun, deidade de ascendência africana, rainha das águas doces, Afrodite de ébano, sensual e voluptuosa. Orixá maior, dona do amor, da feminidade e do rio. Seu nome significa sensualidade, amor, romantismo, delicadeza, doçura, felicidade, água, serenidade, lua e ouro, entre outras coisas. Oshum é a filha mais jovem de Oloddumaré. É o símbolo da coqueteria, da graça e da sexualidade feminina. É a mulher de Shangô de Inle e Orula, e amiga íntima de Elegguá, sua protetora. Sempre acompanha Yemayá. Assiste as mulheres grávidas e dando luz. Eternamente alegre, acompanhada do persistente tilintar de seus sininhos. É capaz de resolver e provocar brigas entre orixás e homens. Sua ira não é comparável à de nenhum outro orixá.
O mel representa a doçura, a justiça a virtude e a bondade divina. O Corão afirma: “o mel é a primeira dádiva que Deus deu à Terra.” Virgílio chama o mel de “dom celeste do orvalho.” O mel também designa a totalidade e o estado de nirvana. Símbolo de todas as doçuras, o mel do conhecimento funda a felicidade do homem. O mel está presente em vários rituais religiosos. Para os egípcios, ele provém das lágrimas do deus Ra e está presente em todas as oferendas religiosas do Egito faraônico. No Islã, segundo o profeta, o mel restitui a visão, conserva a saúde e ressuscita os mortos. Entre os índios da América, ele desempenha um grande papel nas cerimônias e nos rituais de iniciação e purificação. Comida inspiradora, agraciou Píndaro com o dom da poesia e Pitágoras com o da ciência.
Joana Limongi, usando como pretexto a pintura de Pietro di Cosimo “A Descoberta do Mel”, constrói um mundo fusionado – um olhar fractal; ela retorna às origens, à sensualidade e ao símbolo para chegar no centro a partir da árvore que une a terra ao céu.
No filme também há talvez uma interpretação de Dionísio, mas a imagem se expande, rompe com explicação comprimida de mito. Uma vagina saída da árvore verte o mel, patrimônio de Oshun, recolhido gulosamente para a conquista da sensualidade e do erotismo diante do jogo da natureza.
Como nas mitologias y folclores, Joana representa a árvore despejando mel como o eixo do mundo e a expressão do crescimento e propagação inesgotável da vida.
O filme se desenvolve em torno a esta árvore/vagina geradora de mel, os elementos dançam ao ritmo da música de Naná Vasconcelos, desenvolvendo um universo gestual que incita a imaginação e a poesia erótica.
Em uma festa que recorda Dionísio, deus do vinho e do excesso, filho de Zeus e da mortal Sêmele, filha de Cadmo, a diretora produz esta evocação pós-modernista.
Para celebrar a ressurreição de Dionísio, eram organizadas grandes festas com rituais orgiásticos que agradavam muito o deus. Com o tempo, foi incluída também uma competição de obras dramáticas, cuja sede era cidade grega de Atenas. Esta competição ocorria durante a primavera e durava cinco dias. Para estas festas, grandes dramaturgos gregos como Ésquilo, Sófocles e Eurípides escreveram obras que eram preservadas no arquivo do templo de Dionísio.
Joana Limongi recria esta fantasia com uma beleza plástica indiscutível. A fotografia de Jura Capela atesta esse empenho estético. Com todas estas possibilidades interpretativas, o curta de Joana, tal um rizoma, pede para ser visto e apreciado.
Clique aqui para ler o original em espanhol
Confira o blog do filme no endereço:
http://adescobertadomel.blogspot.com/
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