quarta-feira, 17 de abril de 2019

OPAQ

                                                       *Humberto Ellery
Meus caros, para quem não lembra, essa sigla OPAQ, identifica a Organização para a Proibição de Armas Químicas, organização internacional independente afiliada à ONU, que se dedica a eliminar dos arsenais de guerra as armas químicas, as quais, juntamente com as armas nucleares e as biológicas, compõem as famigeradas Armas de Destruição em Massa. 

Quando a OPAQ foi criada em 1997, seu primeiro Diretor foi o diplomata brasileiro José Mauricio Bustani, que conseguiu o primeiro acordo multilateral para destruição de um determinado tipo de armas no mundo (armas químicas), com prazo para efetuá-lo. No entanto, logo após o terrível 11 de setembro de 2001, o então presidente americano George W. Bush  decidiu invadir o Iraque, segundo ele o grande culpado pelo atentado terrorista, com a justificativa de eliminar as armas de destruição em massa estocadas em seus paióis.

O Embaixador Bustani, firme e desassombrado, colocou-se contra o inconsequente Bush. Bustani não só afirmou que o Iraque não dispunha de tais armas, como expressou o plano de submeter as
diversas potências mundiais aos mesmos critérios investigativos que ele estava desempenhando em todos os países. O Presidente Bush fez então uma primeira tentativa de afastá-lo da direção da OPAQ que Bustani, de forma apertada conseguiu reverter. O Embaixador John R. Bolton, diplomata e ex-militar americano escolhido por Bush para¨resolver o problema¨, foi enviado a Den Haag(Haia), na Holanda, sede da OPAQ para ameaçá-lo dentro de seu escritório, o que fez de maneira bem mafiosa: ¨eu sei onde moram seus filhos!¨. Bustani, cujos filhos moravam em New York, não se intimidou, mas a pressão americana sobre os demais países componentes da OPAQ conseguiu os votos necessários para afastá-lo da Direção em abril de 2002.

No ano seguinte Bush invadiu o Iraque. Depois de uma guerra absolutamente assimétrica, covarde mesmo, quando tesouros arqueológicos viraram escombros, descobriu-se que, como afirmara Bustani, o Iraque não tinha armas de destruição em massa.

Com a ascensão dos Democratas Clinton e Obama, os republicanos ficaram afastados do Poder, o que permitiu a Bustani exercer diversos outros cargos diplomáticos com o brilho de sempre, livre da perseguição republicana da Era Bush. Como fruto da continuação do belíssimo trabalho que Bustani iniciou na OPAQ, a Academia Sueca a agraciou com o Prêmio Nobel da Paz em 2013.

Passaram-se os anos e os republicanos voltaram ao Poder nos EUA, agora sob a batuta de um presidente mais estouvado e despreparado até do que o Bush filho, Donald Trump. O ¨Agente Laranja¨, como era de se esperar, escolheu para seu Conselheiro de Segurança Nacional ninguém menos que o arrogante Coronel(também diplomata) John R. Bolton. 

Para quem não está ligando o nome à pessoa, John R. Bolton é aquele americano que por primeiro visitou o nosso Presidente Bolsonaro, que o recebeu à porta de casa com uma espalhafatosa continência, e o levou para tomar café e pão com leite condensado na cozinha. 

Por que estou rememorando todos esse fatos? Porque estou com nojo de uma atitude ignóbil e subserviente da nossa Chancelaria, segundo consta orquestrada pelo próprio Ernesto Araújo, e referendada pelo Presidente Bolsonaro. Os formandos de 2019 do Instituto Rio Branco, nossos futuros diplomatas, convidaram para Paraninfo da Turma o ínclito Embaixador (aposentado em 2015 por limite de idade-70 anos) José Mauricio Bustani. O Chanceler então ordenou que Bustani
fosse desconvidado para não aborrecer o Presidente Bolsonaro, hoje grande amigo do John R. Bolton. A ser verdade será a mais abjeta e servil atitude da nossa outrora altiva casa de Rio Branco. José Maria da Silva Paranhos Junior com certeza está chorando em seu túmulo! 

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