quarta-feira, 26 de agosto de 2020

“O dia em que conhecemos JK”


*Marlenio José Ferreira Oliveira, engenheiro, membro da Academia  Internacional de Cultura (AIC)

Em 1975,  encontrava-me na qualidade de Executor,  à frente do “Convenio GDF/FZDF – Assistência Motomecanizada”, órgão criado pelo último Prefeito de Brasília (1967-1969), Wadjô da Costa Gomide, com o propósito de abrir as fronteiras agrícolas do DF e entorno, visando a geração de alimentos para a subsistência da Capital!!!

Em meados daquele  exercício,  tive a surpresa e a satisfação de receber um telefonema do ex-Presidente Juscelino Kubitschek, que havia adquirido uma fazenda  próxima de Luziania denominando-a então como “Fazendinha JK” e que estava precisando de nossos serviços, como qualquer outro produtor rural do entorno. 

Num misto de envaidecido, emocionado e surpreso pelo pedido, esqueci-me das restrições  então impostas pelo Governo Federal à figura do Ex-Presidente (cassado e proibido de entrar em Brasilia), imediatamente concordei com o pleito e sem pensar duas vezes,  determinei que - seguindo todos os trâmites legais – tomássemos as devidas providências para que pudéssemos imediatamente atende-lo.

Passado aquele momento inicial, pensei melhor e cheguei à conclusão de que tinha extrapolado a minha decisão  de atender ao Presidente e então, resolvi dar conhecimento ao Secretário de Agricultura Pedro Dantas, a quem estava subordinado, comunicando-o do ocorrido... Este por sua vez contatou com o Governador do DF Elmo Serejo  que mais adiante ainda consultou o Chefe da Casa Civil Gal Golbery do Couto e Silva e finalmente,  fui autorizado acontinuar com as providências para àquele atendimento !!!

Passados alguns meses, com parte do serviço já atendido, recebi outro telefonema do Presidente convidando-me e à Rosinha para almoçarmos com ele. Então, num domingo inesquecível fomos nós ao encontro de JK , sendo recebido   por ele que se fazia acompanhar do seu primo-irmão ex-Deputado Federal Carlos Murilo e de sua esposa D. Déa. Passamos então momentos inesquecíveis, com Juscelino contando de sua trajetória política antes e após o regime militar, seu exílio voluntário, a emoção que o mesmo sentia à noite quando da “Fazendinha” via o céu iluminado de Brasilia e finalmente o desejo de formar um pequeno rebanho e o propósito de provar que o solo de cerrado era propício às mais variadas culturas, como arroz, café, soja, etc.

Almoçamos, o Presidente pediu desculpas por alguns instantes (foi cochilar um pouquinho), voltou rápido e fez questão de servir à Rosinha, um doce de ambrosia (que muitos conhecem como doce de leite). A honraria foi muito grande e esta, que já o conhecia dos tempos do Ginásio do Núcleo Bandeirante (hoje, La Salle) , quando ele visitava os candangos, não conseguiu conter suas lágrimas...

Voltamos para casa naquele dia com o coração em órbita, pois tivemos a oportunidade impar de conhecer pessoalmente o grande brasileiro JK, além de conviver com ele momentos fraternos e inesquecíveis !!! 

Passadas algumas semanas, recebi das mãos de um emissário do Presidente, o manuscrito apenso que muito nos honra até hoje, pois ele viria a falecer em trágico acidente, em 22 de agosto daquele mesmo ano. 




 

Nenhum comentário:

Postar um comentário