quarta-feira, 14 de agosto de 2019

Francisco, meu pai

Meus caros, eu sou filho do General-de-Brigada Francisco Humberto Ferreira Ellery, abreviadamente
conhecido como General Humberto ELLERY. Por uma série de coincidências históricas veio a ser
Vice-Governador do Estado do Ceará, tendo assumido diversas vezes a função de Governador do Estado.

Mas na realidade quem o conheceu de perto como nós, seus filhos, sabemos que todos os títulos, honrarias, homenagens que recebeu com tanta pompa, escondiam o verdadeiro homem que foi sempre e tão somente FRANCISCO. Meu pai era a encarnação da palavra HUMILDADE. Eternamente e humildemente Francisco (o beato Chiquinho como o chamávamos na intimidade).

Deixou de herança para nós, seus filhos, uma riqueza esplendorosa, um ¨tesouro no céu que não se acaba; ali o ladrão não chega nem a traça corrói¨(Lucas 12, 33 do Evangelho de hoje. Será coincidência?)

Todas as outras inúmeras virtudes que ornavam seu caráter derivavam dessa humildade. Não por acaso a palavra humildade deriva de húmus, que significa terra fértil, donde nascem todas as outras virtudes. Quem quiser fazer um interessante exercício filosófico pode se fixar em alguma virtude, qualquer uma, e dissecá-la que seguramente vai encontrar em seu cerne, em sua origem, a virtude da humildade.

São Jean-Marie Baptiste Vianney, o Cura D`Ars, padroeiro dos sacerdotes, comparou a Humildade ao fio que sustém as contas de um rosário; sem o fio não teremos um rosário, apenas contas esparsas. Portanto o fio é mais importante que cada conta isolada, e que todas juntas, uma vez que só temos um rosário por causa do fio que as mentem unidas. E no entanto, escondido entre as contas, nós não vemos o fio!

Mas o meu pai sempre foi conhecido também por seu permanente bom humor, que lhe deu a merecida fama de ¨galhofeiro¨(palavra já meio fora de moda, mas que cai nele como uma luva). A propósito dessa palavra lembrei de um fato, muito engraçado, que define bem aquele homem de uma inefável candura, caridoso e brincalhão.

O fato se deu na querida cidade de Quixadá, aonde ele fora inaugurar alguma obra importante do governo ao qual servia como Vice-Governador. Nesse dia ele estava investido na função de Governador, uma vez que o Governador Plácido Castelo estava adoentado.

Quando o carro em que viajava chegou ao destino a cidade estava engalanada, com cordões de isolamento, policiais, banda de música e muito povo na rua. O Governador Humberto Ellery desceu do carro ainda pendurando a gravata no pescoço (ele usava uma gravata que já tem o nó feito, e que é dotada de um gancho com o qual se pendura ao colarinho), desembrulhando o paletó que viera embolado no banco do carro (era de nycron, que não amarrota nem perde o vinco), enquanto da porta do motorista desceu o Lourival, seu motorista, alto, bem apessoado, e bem elegante num impecável terno preto.

Nisso, rompendo o cordão de isolamento, um velhinho correu na direção do Lourival clamando:
¨General, General, me ajude!¨. Um policial correu para segurar o velhinho, mas parou a um sinal do meu pai, que se aproximou para saber que tipo de ajuda o velhinho precisava. O velhinho segurou as mãos do Lourival e exclamou: ¨General, me disseram que o senhor é um homem muito bondoso, e poderia me ajudar, pelo amor de Deus, General, me ajude¨. O Lourival polidamente disse ao velhinho: ¨Meu senhor eu não sou o General, não, o General é esse aqui¨, indicando o meu pai que se achegara.

O velhinho mediu meu pai de cima abaixo, uma figurinha mirrada, pouco mais de um metro e meio de altura, malamanhado, ainda com o paletó na mão, comparou-o com aquela figura elegante de autoridade. Não teve dúvidas, e sem soltar as mãos do Lourival, sorrindo para ele concluiu, enquanto abanava a cabeça:¨General, General, bem que me avisaram que o senhor é muito bondoso, mas é muito gaiofeiro¨.

Feliz Dia dos Pais a todos, e um abraço do Humberto Ellery (o filho)

Nenhum comentário:

Postar um comentário