sábado, 11 de maio de 2024

Caramelo

Caramelo estava sem chão. Voou em asas. Subiu no telhado. Puro instinto de sobrevivência. Sob pena de vir a ser mais um nas estatísticas tristes das enchentes no Rio Grande do Sul. Ajeitou-se com esmero entre telhas rachadas e molhadas. Forte e bravo, Caramelo não esmoreceu. Ficou dias ilhado. Olhos graúdos e negros olhando o céu cinzento. Com acordes de trovões e relâmpagos. Resistiu aplumado, patas brancas, cascos e ferraduras firmes. Tirou forças do dorso amarelado e raçudo. Salvo por bombeiros e veterinários, alinhou a vasta cabeleira negra, com tons de esperança. Abatido, esfomeado, relinchou aliviado, depois da anestesia geral. Fartou-se com  montes de capim, feno e alfafa. Depois da odisseia que viveu, Caramelo tornou-se o xodó e herói da resistência. 

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