sexta-feira, 3 de maio de 2019

‘Maria Stuarda’ mostra rivalidade entre rainhas no 22º Festival Amazonas de Ópera

Segunda montagem do FAO faz parte do trio de rainhas do compositor italiano Gaetano Donizetti

Não há registros de que Mary Stuart, rainha da Escócia, e Elizabeth I, regente na Inglaterra, tenham se encontrado, porém as figuras históricas entram em conflito na peça de Friedrich Schiller, na qual foi baseado o libreto da ópera “Maria Stuarda”, do compositor italiano Gaetano Donizetti. Segunda montagem a ser apresentada no 22º Festival Amazonas de Ópera (FAO), a versão crítica da obra terá estreia em solo brasileiro no palco do Teatro Amazonas, neste domingo (5/5), às 19h.

O FAO é uma realização do Governo do Amazonas, por meio da Secretaria de Estado de Cultura (SEC), com patrocínio master do Bradesco, por meio da Lei de Incentivo à Cultura, Ministério da Cidadania e Secretaria Especial de Cultura. O evento segue com apresentações de ópera, recitais e concertos até 30 de maio.

Com três horas de duração, incluindo os intervalos, “Maria Stuarda” será apresentada pela Amazonas Filarmônica, Coral do Amazonas e Núcleo de Teatro do Liceu de Artes e Ofícios Claudio Santoro. A direção musical e regência ficam a cargo do maestro Marcelo de Jesus, que destaca a ópera como importante no repertório belcantista, no qual o canto e a voz são as características principais da obra.

“O Bel Canto já faz parte do DNA do Festival. Já fizemos obras de Gioachino Rossini e Vincenzo Bellini que, juntos a Donizetti, são o auge dessa tradição vocal. ‘Maria Stuarda’ tem sido resgatada nos teatros de todo mundo, e já tínhamos esta obra separada para ser realizada. Isso evidencia o quanto o FAO continua se mantendo alinhado em relação ao pensamento contemporâneo. Quando pesquisamos também descobrimos que ainda não havia sido apresentada no país, o que foi uma surpresa para nós”, diz Marcelo de Jesus.

De acordo com o maestro, há um movimento cultural em torno da obra das duas rainhas, nos últimos anos. Na temporada 2019-2020 de The Metropolitan Opera, de Nova York, “Maria Stuarda” está incluída entre as obras que serão apresentadas. A estreia recente do filme “Duas Rainhas” (“Mary Queen of Scots”, 2018) também é reflexo deste movimento.

“A história envolve diversos elementos chamativos para o público. Mary era prima de Elizabeth e tinha direito ao trono da Inglaterra. Porém, Mary era católica, e o reino inglês estava dominado pelo protestantismo, defendido por Elizabeth. Há intrigas políticas, sociais e religiosas, um jogo de xadrez dos tronos que atinge o público e faz parte do conceito da montagem para o FAO”, pontua o regente.

O jogo de poder citado por Marcelo de Jesus é refletido nos cenários de Giorgia Massetani, nos quais o público poderá reconhecer detalhes de um tabuleiro de xadrez, e também nos figurinos assinados por Fábio Namatame, que faz uma releitura dos trajes usados pela realeza e pelos nobres do século 16.

“A obra é belíssima, o elenco de solistas que temos é incrivelmente talentoso e a montagem do FAO é linda visualmente. Estes elementos, unidos às características do enredo, com certeza irão chamar e prender a atenção do público", afirmou. 

Obra – Quando estreou em 1835, em Milão, na casa de ópera La Scala, “Maria Stuarda” tinha três atos. A versão crítica que será apresentada no Teatro Amazonas tem dois, cantada em italiano. “A versão crítica tem um grande primeiro ato, com dois quadros, e um segundo ato com um quadro. Como sempre no FAO, apresentamos a obra completa, sem nenhum corte”, explica Marcelo de Jesus.

Junto a “Anna Bolenna” e “Roberto Devereux”, “Maria Stuarda” faz parte das chamadas “Rainhas de Donizetti”, obras baseadas no período Tudor (1485-1603). O enredo inicia com Mary aprisionada e mostra, desde o início, um grande confronto entre as duas rainhas.

“Este confronto tem seu ápice quando as duas se encontram e Mary xinga Elizabeth. Tanto Donizetti quanto o libretista Giuseppe Bardari foram transgressores à época, por colocar xingamentos nunca antes vistos numa ópera. Mary diz que Elizabeth é a filha impura de Anna Bolenna e a chama de meretriz, algo bem forte naqueles tempos”, ressalta o regente.

Ainda segundo o maestro, este é o trecho-fetiche da obra, sendo regravado diversas vezes. “O trecho é muito famoso e grandes cantoras de ópera já realizaram gravações apenas desta parte, por ser um trecho marcante e famoso no mundo da ópera”, acrescenta o maestro.

Elenco – O elenco de “Maria Stuarda” conta com Tatiana Carlos (soprano), como Elizabeth; Cristina Giannelli (soprano), como Mary; Dhijana Nobre (soprano), como Anna Kennedy; Paulo Mandarino (tenor), como Roberto, conde de Leicester; Fred Oliveira (barítono), como Cecil; e Pepes do Valle (baixo), como Talbot.

“Tatiana é um jovem talento, com um grande potencial, que faz estreia no FAO. Em contrapartida, temos a experiência da italiana Cristina Giannelli, que já interpretou Mary em três produções. Assim como temos, também, Pepes do Valle, que fará sua 50ª obra, e um dos nossos expoentes do canto, que é Dhijana Nobre. O FAO tem tradição de unir novos e experientes talentos”, comenta Marcelo de Jesus.

A amazonense Dhijana Nobre participa do FAO desde 2009, já tendo feito a “Lucia di Lammermoor” de Donizetti. Ela interpretará a melhor amiga de Mary. “Anna é solicitada, pela própria Mary, para acompanhá-la no momento da execução. Para mim, é um privilégio fazer mais um papel de Donizetti, que é bel canto puro e muito bem estruturado. Também é uma honra poder estar no mesmo palco de grandes nomes nacionais e internacionais da ópera”, declara a soprano.

A carioca Tatiana Carlos faz sua estreia no FAO e no Teatro Amazonas. Já atuou em diversos papéis e agora também fará sua primeira Elizabeth. “Ela é um personagem incrível e complexo. Na história, ela é a vilã, mas não a vejo apenas como isso. É um desafio enorme para mim abraçar toda essa gama de cores e pensamentos que eu vejo nela, e tentar passar isso ao público”.

Com um bacharelado em canto pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Tatiana está terminando atualmente o mestrado em Performance Vocal na Brigham Young University (BYU), nos Estados Unidos. Há duas semanas em Manaus, a cantora destaca o acolhimento do elenco e dos amazonenses.

 
 
 
O secretário estadual de Cultura, Marcos Apolo Muniz, ressalta que um dos diferenciais este ano é a ampliação do acesso aos espetáculos. O FAO conta com programação nos teatros Amazonas e da Instalação, nos centros culturais Palácio Rio Negro e Palácio da Justiça, em shoppings, hospitais e escolas de Manaus, além de chegar ao interior.

“É um espetáculo grandioso e ficamos felizes pela procura do público. Os ingressos, que são bem acessíveis, têm esgotado em todas as apresentações”, concluiu. ( Fotos Michael Dantas).

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