A
proliferação de partidos políticos tem efeitos negativos no processo político e
eleitoral, sobretudo nas jovens democracias, como é o caso do nosso país. Em
vez de ampliar o debate e a diversidade de idéias e ações propositivas, o
aumento do número de partidos amplia as chances para alianças complexas e
duvidosas, dificultando, por exemplo, a comunicação e o real entendimento das
mensagens políticas e partidárias pelo eleitorado brasileiro nas diferentes
instâncias: federal, estaduais e municipais. É preciso considerar que, além da
existência de 32 partidos políticos em nosso país, apenas 10% dos eleitores
brasileiros - 15,3 milhões de pessoas - são filiados a alguma agremiação
política, conforme dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Mais da metade dessas
filiações, porém, tem se concentrado em apenas cinco partidos políticos (PMDB,
PT, PP, PSDB e PDT), reforçando que o número de instituições partidárias
supera, e muito, a diversidade ideológica ou programática. Em nações onde a
democracia está consolidada, como é o caso dos países da América do Norte ou da
Europa, o desenvolvimento político e partidário ocorre de modo mais
qualitativo, sem excessos ou abusos partidários com a existência das chamadas
legendas de “aluguel”. Nos Estados Unidos, por exemplo, primeira nação a
organizar partidos em escala nacional, as agremiações surgiram como parte da
revolução democrática para, em 1830, estarem firmemente enraizadas no cenário
político, com visões bem distintas e fundamentadas. Hoje, mesmo com o surgimento
temporário de outras siglas, os partidos Republicano e Democrata permeiam,
historicamente, todo o processo político dos Estados Unidos. Aproximadamente
60% dos americanos consideram-se democratas ou republicanos, e mesmo aqueles
que se dizem independentes, costumam apresentar preferência partidária e alto
grau de lealdade a um desses dois partidos, fortalecendo o debate claro e
inviabilizando as posições e alianças políticas temporárias ou instáveis. Esse
formato não impede que os partidos americanos tenham ampla base de sustentação
eleitoral e adeptos em todas as classes sociais. No Canadá, federação
considerada uma monarquia constitucional com democracia parlamentar, quatro são
os principais partidos políticos: o Partido Liberal, que governou o Canadá durante
a maior parte do século XX, o Conservador, o Novo Partido Democrático e Bloco
Quebequense. Na Alemanha, apesar da liberdade para a formação de chapas para as
disputas eleitorais regionais, sem a necessidade de criação de um partido, as
siglas mais expressivas também estão em menor número. Entre as instituições
políticas alemãs que mais influenciam o debate eleitoral, estão a União
Democrata Cristã (CDU), a União Social Cristã (CSU), o Partido Social Democrata
(SPD), o Partido Verde e a Esquerda. São exemplos de linhagens partidárias com
forte identidade, cara e bandeira, essenciais para um processo eleitoral
maduro, com argumentações claras e elevado grau de convencimento. Ao
ampliar demasiadamente o escopo de partidos, entretanto, tira-se, no caso brasileiro,
o poder da representação, com negativos efeitos ao processo político nacional.
O reforço da identidade partidária e das ideias já existentes são, por isso, o
caminho mais adequado para gerar transformações políticas importantes, com
espaços reais para a inspiração e a liderança, qualidades essenciais nos
processos políticos desenvolvidos e transformadores. As eleições deste ano e a
chamada “governabilidade”, no Brasil, escancaram o problema institucional e
político decorrente dessa proliferação de partidos que, de forma alguma
contribuem para o aperfeiçoamento de nossa democracia.
Senadora Ana Amélia (PP-RS)
Senadora Ana Amélia (PP-RS)
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