Gustavo Assunção, diretor de produto da Samsung: importações da empresa subiram 54,8% no primeiro bimestre.
A Copa do Mundo e o programa Minha Casa Melhor ajudaram a
impulsionar a produção industrial de eletroeletrônicos no primeiro bimestre. A
importação de insumos por indústrias desses segmentos, porém, contribuiu para
pressionar as importações, com impacto negativo para a balança comercial do
setor. A atual preferência do brasileiro, que migrou da TV de tubo
para a tela plana, fez a produção doméstica privilegiar bens com menor conteúdo
nacional e que demandam insumos importados de maior valor agregado. A mudança
alavanca o desembarque de intermediários não só em quantidade como em valor.
Segundo dados da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior
(Funcex), as importações de bens intermediários cresceram 7,4% no primeiro
bimestre, acréscimo equivalente a quase US$ 1,4 bilhão. Houve elevação de US$
370 milhões em importação de componentes eletrônicos e US$ 310 milhões a mais
em compras do exterior em matérias-primas e intermediários para televisores.
Esses dois grupos representaram 48,6% do acréscimo na importação de insumos no
bimestre. Dentre as 40 maiores importadoras listadas pelo Ministério
do Desenvolvimento (Mdic), chama a atenção a elevação de importação de
fabricantes de eletroeletrônicos. Os desembarques da Samsung Eletrônica da
Amazônia atingiram US$ 747,3 milhões no primeiro bimestre, um crescimento de
54,8% contra igual período de 2013.
A coreana é a segunda maior importadora do país, depois
da Petrobras. Na mesma comparação, a importação da LG Electronics avançou
73,9%. Com o desempenho, a LG passou de décima maior importadora para a
terceira posição no ranking. A Flextronics International Tecnologia, que produz
eletroeletrônicos para terceiros, elevou suas importações de US$ 72,3 milhões
para US$ 335,6 milhões no primeiro bimestre. O crescimento das importações das três empresas começou um
pouco antes. Em dezembro de 2013, as duas coreanas dobraram o valor de
importações contra o mesmo mês de 2012. Na Flextronics, a importação subiu 142%
em dezembro. Nesse mês, as importações totais tiveram alta de 3,9%. Em Manaus, onde se concentra a produção de televisores no
país, a importação de insumos também começou a ganhar força no fim do ano passado.
Em dezembro, houve elevação de 29,5% no desembarque de insumos para o polo
industrial em relação a igual mês de 2012. O dado mais recente disponível é o
de janeiro, com alta de 42,5%. As variações, divulgadas pela Superintendência
da Zona Franca de Manaus (Suframa), levam em conta os valores de importação em
dólar. Respondendo por 35,84% do faturamento do polo industrial local, o setor
eletroeletrônico lidera o avanço nas importações. O nível de importados no
total de insumos adquiridos pelo segmento eletroeletrônico em Manaus saltou de
78,4% em dezembro de 2013 para 82,4% em janeiro. Lourival Kiçula, presidente da Eletros, que reúne os
fabricantes de produtos eletroeletrônicos, diz que as importações acompanham o
nível de produção que deve ter ritmo bem mais elevado por conta da Copa do
Mundo e também em razão do programa Minha Casa Melhor. As vendas de televisores
da indústria para o varejo aumentaram 38% em janeiro e 52% em fevereiro. A
perspectiva é que esse bom ritmo se mantenha até meados de maio. Kiçula diz que a importação de insumos é inevitável em razão
da falta de fornecedores nacionais. A mudança de perfil dos televisores
vendidos, diz, explica a elevação nos intermediários importados. "Chegamos
a ter fabricantes de cinescópios para as TVs de tubo. Mas agora o mercado é TVs
de LCD ou de plasmas e as telas finas precisam ser importadas". Ele conta
que no ano passado foram produzidos no Brasil 14,7 milhões de televisores, do
quais cerca de 1 milhão em TVs de tubo. Este ano, diz, a fabricação de TVS de
tubo será encerrada no primeiro semestre e a produção anual cairá para 300 mil
unidades. A indústria brasileira deve produzir este ano um total de 16 milhões
a 17 milhões de televisores. A mudança já se reflete no volume de produção em Manaus. Em
janeiro, a quantidade de TVs de tubo fabricadas no polo industrial caiu 82% em
relação a mesmo mês de 2013 enquanto os televisores de plasma registraram 188
mil unidades produzidas, com alta de 441,8%. Sucesso de consumo, a TV de LCD
alcançou 1,25 milhão de unidades, com elevação de 57,8%. A Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica
(Abinee) também destaca que o crescimento das importações decorre da composição
atual das vendas do setor eletrônico. Segundo a entidade, outros produtos que
estão puxando o desempenho industrial do segmento eletroeletrônico nos últimos
meses, como tablets e smartphones, têm baixo índice de nacionalização dos
insumos. Como são itens com maior conteúdo tecnológico, esses componentes
também são, no geral, mais caros, o que eleva tanto a quantidade quanto o valor
em dólar das importações do segmento. Na Samsung, essa transição é menos relevante para explicar o
aumento das importações no primeiro bimestre deste ano, já que a empresa deixou
de fabricar TVs de tubo há cerca de três anos. Mas a empresa, que é
patrocinadora oficial da seleção brasileira, apostou forte no crescimento das
vendas de televisores em função da Copa, afirma o diretor de produtos da
categoria TVs da empresa, Gustavo Assunção. O planejamento com o varejo para
atender a demanda esperada começou em agosto e até agora cerca de 70% da
produção já chegou às lojas. Até o fim de abril, o restante dos produtos deve
ser entregue ao varejo.
Assunção afirma que a Copa deve alterar o padrão de vendas
de televisores neste ano, que em geral são mais concentradas no segundo
semestre, por causa do Natal. Em 2014, a produção deve se concentrar no primeiro
semestre e isso teria antecipado a importação de peças sem similar nacional. A alta de importação registrada pela empresa nos primeiros
meses de 2014, porém, não deve se sustentar até o fim do ano, avalia. No
primeiro bimestre, a empresa importou 54% a mais do que em igual período de 2013. A Samsung não divulga
a expectativa de vendas, mas Assunção afirma que o mercado de televisores deve
crescer entre 15% e 20% no ano, e a Samsung espera ganhar participação nessa
fatia. A Flextronics, fabricante terceirizada de celulares,
computadores, roteadores e videogames, entre outros produtos, aumentou suas
importações em 364% no primeiro bimestre do ano, na comparação com igual
período de 2013. Segundo Jorge Suplicy Funaro, diretor de Novos Projetos da
Flextronics, esse avanço resultou principalmente de novos contratos de
terceirização de manufatura. Embora Funaro não identifique quem são os novos clientes da
companhia, no fim do ano passado a Microsoft anunciou que seu novo console de
videogame, o Xbox One, passaria a ser fabricado no Brasil, com montagem a cargo
da Flextronics em Manaus. A empresa já havia mostrado forte crescimento das
importações no ano passado, quando as compras do exterior subiram 50% em
relação ao ano anterior. No fim de 2012, a empresa assumiu a fábrica da Motorola
Mobility em Jaguariúna, no interior de São Paulo. Atualmente, a empresa tem
quatro fábricas no Brasil, duas no interior de São Paulo e duas em Manaus. Embora pressione a importação e contribua negativamente para
a balança comercial, a elevação de vendas de eletroeletrônicos ajuda a puxar a
produção da indústria doméstica. De acordo com a Pesquisa Mensal da Indústria
(PMI) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em fevereiro a
atividade manufatureira avançou 0,4% na comparação com janeiro, feitos os
ajustes sazonais. O setor de bens de consumo duráveis cresceu bem mais que a média,
20,9% nesta comparação, com destaque para a fabricação de eletrodomésticos da
"linha marrom", no qual os televisores estão incluídos, que avançou
87,8%, e de telefones celulares, com aumento de 26,1% no período. Também
aumentaram a produção de eletrodomésticos da "linha branca", em 2,3%,
e de outros eletrodomésticos (9,1%) e de artigos do mobiliário (5,6%). No bimestre, os números divulgados são menos detalhados, mas
o ramo de materiais eletrônicos, aparelhos e equipamentos de comunicações teve
aumento de 35,4% da produção em relação ao mesmo período de 2013, impulsionado
pelo crescimento na produção de televisores e telefones celulares, segundo o
IBGE.
Nenhum comentário:
Postar um comentário