Vou responder a esse mau caráter. Quem passou,
combateu e resistiu a tudo que resisti, antes, durante e depois do golpe, não
pode dar a impressão de estar com medo. Isso eu tive nas várias vezes em que ia
para o Doi-Codi, nas prisões e nos confinamentos. Já confessei: “Nessas oportunidades
tive medo, da mesma forma que tive, quando sendo levado para Fernando de
Noronha, meu “aviãozinho” entrou naquela “zona de morte”, onde “caiu” aquele
avião da Air France, matando centenas de pessoas”. Quem diz que não tem medo de
nada é um covarde, mentiroso, farsante, o Cony reúne as três coisas.
1963, o ano mais tenebroso da história
Era terrível. Os dois grupos que tentavam se
aproveitar do golpe eram João Goulart e os generais. Conspiravam diariamente,
queriam o poder de qualquer maneira. Os analistas mais competentes e bem
informados colocavam o presidente como grande articulador da permanência no
Poder. O que ele mesmo confirmou nos comícios de 13 e 28 de Março já de 64. (E
vastamente analisado aqui mesmo antes e depois da sua derrubada).
Seis governadores, presidenciáveis em 1965,
resistiram de todas as maneiras
Pela própria condição de candidatos, queriam
eleição. E nenhum deles estava a favor de Jango. Depois de duas tentativas de
intervenção na Guanabara, frustradas e recusadas pelos dois grandes partidos
que o apoiavam, PSD-PTB, Jango se voltou contra este repórter.
Minha prisão em 63: planejada, executada de forma
golpista
Eu combatia como sempre, denunciava as
“maquinações” do vice presidente que assumira com as maluquices de Jânio Quadros.
Quando em 21 de Julho desse ano, publiquei uma circular “sigilosa e
confidencial” do Ministro da Guerra, Jango chamou-o, mandou que me prendesse e
me processasse. Era uma ordem.
Mesmo com prisão de Jango, fui absolvido
Premeditado, o Ministro da Guerra, intimado pelo
Presidente do Supremo a dizer quem me prendera, poderia ter respondido
simplesmente “que não sabia, ou que eu estava respondendo a um IPM (Inquérito
Policial Militar)”. Aí o Supremo não poderia efetuar o julgamento. Mas o
presidente queria o julgamento pelo Supremo. Mandara fazer um levantamento,
garantiram que eu seria condenado por 6 a 2. Era o suficiente.
“Basta” e “Fora”
Dois editoriais históricos do Correio da Manhã, um
dos mais importantes jornais da época, no qual trabalhava esse covarde do Cony.
Eu não cheguei tão longe quanto o Correio da Manhã. A confusão era total,
difícil de entender o que acontecia e iria acontecer.
Cony escreve alguns artigos sobre o golpe
Começou no seu estilo fofo, intrigante, falacioso,
dava a impressão de que combatia o golpe. Era difícil desvendar o que escrevia.
Mas acreditemos que era contra, adulterava sua própria atuação de canalha,
fingia que era mesmo combatente.
Nem preso, cassado ou perseguido
Os militares no Poder não se preocupavam com o
Cony, o que ele fingia escrever não os atingia. Mas insistia, um dia foi
chamado a uma delegacia que ficava perto do jornal. Disseram a ele coisas que o
assustaram. Inesperadamente (para alguns desinformados) parou de escrever.
Ficou refugiado no belo prédio da Manchete, (projeto de Oscar Niemeyer)
escrevendo artigos para o dono da revista “assinar”. Não foi o único que se
escondeu lá. O Correio da Manhã, meses depois, na oposição verdadeira, com Cony
já demitido da redação, por irresponsabilidade e conivência acabou fechado.
Sem ser preso ou cassado, recebe alta indenização
Foi dos primeiros a requerer a chamada
“indenização-salarial-individual”. O que é isso? A compensação pela cassação, e
impedimento de trabalhar e com isso a perda de salários. O calhorda, mau caráter,
mentiroso e covarde do Cony não foi cassado, continuou trabalhando altamente
remunerado, “ganhou” a mais alta indenização.
Minha participação em 64
Não apoiei e nem combati o golpe nos primeiros 3 ou
4 meses. Pratiquei represália contra aqueles que me prenderam, me julgaram e
pediram ao Supremo a minha condenação a 15 anos de prisão. (Enquadrado na Lei
de Segurança). Mas fui o único a noticiar diariamente o que acontecia com o
general Castelo Branco, indo “tentar, seduzir ou intimidar JK”, na casa do
deputado Joaquim Ramos. (Excelente deputado, irmão de Nereu).
Castelo-Juscelino
Primeiro, Castelo foi com o embaixador Negrão de
Lima à casa de Joaquim Ramos. Pediu um encontro com Juscelino. O segundo
encontro com Amaral Peixoto, presidente do PSD, “que não queria briga com
ninguém”, conversou com o futuro “presidente”.
Juscelino e Castelo se encontram
Finalmente, pressionado, JK foi conversar com
Castelo, levou o Ministro da Fazenda do seu governo, José Maria Alckmin.
Textual de Castelo: “Presidente, não preciso do seu apoio para ser presidente,
mas não quero assumir como Chefe do governo Provisório. Pretendo o seu apoio
para ser presidente de verdade, meu único objetivo é garantir a eleição de
1965. E o senhor é o maior interessado, é candidato desde que passou a
presidência ao senhor Jânio Quadros”.
As dúvidas de Juscelino
O ex-presidente não sabia o que responder, Castelo
Branco acrescentou: “Para mostrar minha sinceridade, estou convidando neste
momento seu amigo José Maria Alckmin, para ser vice na minha chapa”. Aceitou,
Castelo teve que fazer uma viagem de 72 horas, Alckmin foi dormir num motel no
Paraguai, não podia assumir. Critiquei tudo, Cony, o bravateiro da bravata,
altamente remunerado na revista Manchete, num silêncio total. Como sempre.
A Frente Ampla lançada na minha casa
Foram duas reuniões. Nas duas: o ex-ministro da
Saúde de Jango, coronel da Aeronáutica, Wilson Fadul, preso e barbaramente
torturado. Enio da Silveira, grande figura e tão comunista que colocou no
primeiro filho o nome de Miguel Arraes da Silveira. O Brigadeiro Teixeira,
líder de maior prestígio na FAB. Flávio Rangel, que saudade, morreu moço,
realizou com o Millôr, o espetáculo de maior repercussão daquela época,
“Liberdade. Liberdade”. E Carlos Lacerda, que jamais falara com alguns dos
outros, e eles também não. 3 ou 4 horas de conversa admirável e cordialíssima.
Depois as reuniões passaram a ser na casa do empresário Alberto Lee, a mais
bonita do Rio.
O Manifesto da Frente Ampla
Decidido e redigido, foi lido na redação da Tribuna
da Imprensa. Presentes lá em cima e na rua, mais de 200 Jornalistas. Tiramos
tudo da redação, ficou um espaço enorme, Carlos Lacerda leu o Manifesto. E
começou os encontros com JK e Jango.
Lacerda-Jango em Montevidéu
Eu ia com Lacerda, não tive autorização para sair
do Brasil. Não tinha ressentimento nem constrangimento em conversar com quem
mandara me prender. Logo que apertou a mão de Lacerda, Jango perguntou: “O
Jornalista Helio Fernandes não vinha também?”. Lacerda explicou, Jango
respondeu: “Somos mais de 60 aqui em Montevidéu. Nossa alegria é quando chega a
Tribuna da Imprensa, ficamos satisfeitos com a coragem do jornalista, combate
duramente a ditadura, e continua no país”.
A prorrogação do mandato
Ainda em 64 e no início de 65, Golbery, já
brigadíssimo com Lacerda, começou a articular a prorrogação do tempo de
Castelo. Fiquei contra desde o início, escrevi artigos duríssimos contra
Castelo. (O de 1967, sem qualquer importância comparados com os que escrevi com
ele o mais poderoso presidente. Naturalmente “presidente”). Nenhuma concessão,
só não consegui convencer Lacerda que a prorrogação era o fim da eleição de
1965.
1965: a eleição que não houve
Insisti muito com o ainda governador, o doutor
Julio Mesquita convencia Lacerda do contrário. Ele tinha mais influência sobre
o governador do que eu. Mas escrevi dois artigos que Lacerda comentou, depois
que se confirmaram: “O Helio Fernandes adivinha”.
Vou parar por aqui, apenas mostrar como o calhorda,
canalha, covarde, bravateiro e mentiroso Cony, é totalmente desinformado.
PS – Além de tudo, Cony não sabia nem sabe de
nada. Afirmou que eu fui candidato a senador depois do AI-5 de 1968, pela UDN.
Ora, os partidos, incluindo a UDN, foram logo extintos a partir do golpe,
criados o MDB e a Arena.
PS2 – Fui candidato a deputado federal pelo MDB,
em 1966, tido e havido como o mais votado.
PS3 – A eleição no dia 15 de novembro, fui
cassado no dia 12, três dias antes da eleição. Mario Martins, candidato a
senador me pediu para participar do comício de encerramento da campanha, no dia
seguinte, na PUC.
PS4 – Concordei, cheguei na PUC, o Reitor, Padre
Laércio, me esperava na porta. Me disse: “Jornalista, na minha sala estão dois
coronéis fardados que dizem que o senhor não pode falar, está cassado”.
PS5 – “Telefonei para meus superiores, que
disseram: O senhor não recebe ordens do Exército e sim da Igreja. Se o senhor
quiser falar depende do senhor”.
PS6 – “Padre Laércio, se o senhor autoriza já
devíamos estar no palanque”. Fiz o discurso mais violento da minha vida.
PS7 – “Fui preso, o único cassado proibido de escrever,
dirigir jornal, fiquei três meses longe de tudo”.
PS8 – Quando saí, entrei com Ação na Justiça para
recuperar meu direito e minha obrigação de escrever.
PS9 – Por sorte a Ação caiu com o juiz Hamilton
Leal, presidente da LEC (Liga Eleitoral Católica), que determinou que eu
voltasse a escrever.
PS10 – Como a ditadura estava sendo muito
contestada pela Igreja, não quiseram brigar mais, passei a escrever com meu
nome. E artigos duros, violentos, incontestáveis.
PS11 – Mais tarde, o Jornalista Antônio Callado,
intelectual progressista mas não ativista, foi cassado e também proibido de
escrever.
PS12 – Surpresa total no Jornal do Brasil. Já
preparavam passaporte, Callado iria para Paris, mandaria material sem assinatura.
PS13 - Logo, logo, Costa e Silva publicou nota oficial:
“O jornalista Antônio Callado continua cassado, mas pode escrever”. Apresentei
Callado ao famoso e combativo “Capitão Macaco”, ficaram amicíssimos.
PS14 – Me perseguiram e ao jornal de todas as
formas que o calhorda do Cony não conhece. Até o fim da ditadura ficou na
Manchete, que conseguiu fechar com os outros companheiros de “luxo e grandeza”.
Fingindo de herói da Liberdade.
PS15 – Como o mentiroso, farsante e canalha do Cony só
“combate” na lama ou debaixo do tapete, é a última vez que escrevo o seu nome.
Haja o que houver, deixarei o Cony no subterrâneo do lamaçal, combaterei para
cima.
PS16 – Bem para cima e para o alto, lembrando o
que já escrevi sobre jornal que “ensandeceu”.
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