Nome aos bois
Toda
generalização é insensata, injusta e beneficia sempre o infrator, que nela se
oculta. Se alguém diz, por exemplo, que todos os profissionais de uma
determinada categoria são desonestos, sem dar nome aos bois e sem comprová-lo,
comete não apenas grave injustiça contra toda a categoria, mas, sobretudo,
favorece a eventual minoria infratora, que permanece anônima e impune. Tanto
faz se o acusador afirma que "todos" ou somente "alguns"
delinquem. A imprecisão põe todos sob suspeita. E não há quem celebre mais esse
tipo de conduta do que quem a provoca. Até o denunciante, ainda que munido da
mais sincera indignação, acaba se tornando, mesmo sem o desejar, cúmplice dos
que acusa. É o que ocorre com os que fazem da acusação sistemática aos
pecuaristas um padrão de conduta. Há algum tempo, um procurador da República
envolveu sua instituição no patrocínio indevido, com dinheiro público, de um
vídeo que incitava o público a não consumir carne, pois provinha de fazendas
que, segundo ele, desrespeitavam a lei e praticavam trabalho escravo. Desnecessário
dizer que não citava nenhuma fazenda em particular, deixando todas sob suspeita.
A Procuradoria Geral da República não é - nem pode ser - uma ONG e os
procuradores não podem confundir sua tribuna com um palanque. Assim estariam
incorrendo em desvio de função - e de uma função essencial à democracia. Idem
os jornalistas. Abraçar causa justa - no caso, a segurança alimentar - não dá
licença para acusações generalizadas, que comprometem todo um setor produtivo. Não
questiono, como defensora intransigente da liberdade de imprensa, opinião, seja
de quem for. O que estranho - e por isso registro - é a precária fundamentação
que a reveste quando alguns tratam do setor rural. No caso da pecuária, há
reincidentes. Li recentemente, neste jornal, a afirmação: "Alguns dos
maiores frigoríficos brasileiros já foram flagrados comercializando carne de boi
criado em fazendas instaladas em unidades de conservação ou terra indígena e
até, em alguns casos, onde houve trabalho escravo." Que frigoríficos, que
casos? Dito assim, o pronome indefinido "alguns" acusa a todos. Sem
dar nome aos bois, compromete-se todo o setor que fez do Brasil o segundo maior
produtor mundial de carne bovina e o primeiro em exportação. Concorrentes da
União Europeia e de outros mercados devem ter celebrado a frase. Jamais
defendemos trabalho escravo, grilagem ou desmatamento irresponsável. Os que aí
delinquem devem ser punidos pela Justiça. Mas tão grave quanto os delitos é
atribuí-los genericamente a todo um setor, sobretudo diante dos interesses
econômicos internos e externos envolvidos e dos danos sociais que provoca. A
liberdade de expressão, assim como a coisa julgada, são os principais pilares
que sustentam a democracia.
Kátia Abreu, senadora pelo PSD do
Tocantins, foi a primeira mulher a assumir a presidência da Confederação da
Agricultura e Pecuária do Brasil, CNA, entidade que reúne os produtores de
alimentos do país.
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