O gesto
de Bento XVI foi de fato uma notícia que abalou o mundo inteiro e suscitou
surpresa, dor e comoção e, ao mesmo tempo, nos fez reconhecer e admirar ainda
mais a sua fé, sabedoria e humildade. A tenacidade, audácia, coerência que
manifestou como professor, bispo, cardeal e papa construíram a base para esta
profunda e certamente sofrida decisão. As comoventes palavras com que comunicou
a sua renúncia são a chave de leitura de sua personalidade: veraz, lúcida,
inteligente e, ao mesmo tempo, consciente da própria fragilidade física e das
grandes responsabilidades no governo da Igreja. “Depois de ter examinado repetidamente
a minha consciência diante de Deus, cheguei à certeza de que as minhas forças,
pela idade avançada, já não são mais aptas para exercer adequadamente o ministério
petrino. Estou bem ciente de que este ministério, por sua essência espiritual,
deve ser feito não apenas com obras e palavras, mas também sofrendo e orando.”
Não se faz vítima do sofrimento e da debilidade física, mas com humildade
declara-se impotente. “… No mundo de hoje, sujeito a mudanças rápidas e agitado
por questões de grande importância para a vida de fé, para guiar a barca de São
Pedro e anunciar o Evangelho, é necessário também o vigor tanto do corpo como
do ânimo, vigor que, nos últimos meses, diminuiu de tal forma, que reconheço a
minha incapacidade de gerir bem o ministério que me foi confiado.” Um gesto
corajoso e inesperado, o de Bento XVI. Mas não abalou a Igreja, porque é Deus
que a dirige, o papa é apenas “um simples e humilde operário na vinha do
Senhor”, como ele disse logo após a sua eleição, em 19 de abril de 2005. Temos
a profunda certeza de que a Igreja continua além das pessoas; a coragem de
Bento XVI foi um sinal de fé e abertura para a Igreja na sua sublime tarefa de
guia ética e espiritual no mundo. A notícia, que se espalhou como um raio, teve
o apoio e a aceitação dos fiéis. Seu gesto, que denota fé, audácia, humildade,
sabedoria, foi elogiado por muitos. Algumas declarações:
“Manifestou
que é de fato uma pessoa sábia, pois não considerou o seu prestígio, mas chegou
à con¬clusão de que para o bem da Igreja era o momento de se retirar”.
“Eu não
esperava, foi um duro golpe, esperamos que o seu sucessor esteja à altura dos
tempos e das necessidades da Igreja”.
“Foi um
papa autêntico, corajoso, encarou e enfrentou problemas difíceis na Igreja”.
“Quando
vi a notícia na internet não queria acreditar, pensei que fosse uma ‘pegadinha’
de mau gosto, mas desse papa se podia esperar uma atitude dessas, pois foi
sempre muito autêntico e verdadeiro”.
“É de
fato um homem de Deus, certamente terá rezado e refletido muito antes de tomar
esta decisão, e o fez com grande sofrimento”.
Além do
seu testemunho de autên¬tico homem de Deus, não podemos esquecer o grande
empenho e tra¬balho de ensinamento sólido e profundo em assuntos teológicos, e
sua avaliação positiva e não ingênua às novas tecnologias da comunicação. Foram
sempre profundas e práticas as suas reflexões para as jornadas mundiais de
comunicação.
O papa
e as redes sociais digitais − Na mensagem deste ano, sentimos o valor e a
força que atribui às redes sociais. “O espaço das redes sociais, quando bem e
equilibradamente valorizado, contribui para favorecer formas de diálogo e
debate que, se realizadas com respeito e cuidado pela privacidade, com responsabilidade
e empenho pela verdade, podem reforçar os laços de unidade entre as pessoas e
promover eficazmente a harmonia da família humana. A troca de informações pode
transformar-se numa verdadeira comunicação, os contatos podem amadurecer em
amizade, as conexões podem facilitar a comunhão. Assim as redes sociais
tornam-se cada vez mais parte do próprio tecido da sociedade, enquanto unem as
pessoas na base destas necessidades fundamentais. Por isso, as redes sociais
são alimentadas por aspirações radicadas no coração do homem.” (Mensagem de
Bento XVI, no 47º Dia Mundial das Comunicações Sociais.) Ele próprio estava
atento às redes sociais digitais e presente no microblog Twitter e outras,
ouvindo e comunicando-se com o grande público das mais variadas tendências,
conhecimentos e posições sociais. Nosso agradecimento sincero e nosso afeto ao
amado pontífice, que certamente continuará a estar presente na vida da Igreja,
como ele próprio afirma na conclusão de sua declaração de demissão: “Quanto a
mim, também no futuro desejo servir a Igreja de Deus de todo o coração com uma
vida dedicada à oração”. A Revista Família Cristã, que levou e leva a
milhares de assinantes os seus valiosos ensinamentos, agradece e continuará a
segui-lo, desejando-lhe momentos de muita paz e serenidade.
Maria
Antonieta Bruscato, fsp, Superiora-geral da Pia Sociedade Filhas de São
Paulo − Irmãs Paulinas familiacrista@paulinas.com.br
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