terça-feira, 3 de maio de 2022

"Sarney a grande reserva do país"

Há dias o ex-presidente José Sarney completou 92 anos. Lúcido e atuante, acumula experiência e credibilidade. É o melhor e mais importante de nossos ex-presidentes vivos, sem a menor dúvida. São seis décadas de presença na vida pública . Foi deputado, senador, presidente da República e presidente do Senado. Hoje já é julgado de maneira menos emocional, vítima que foi de traiçoeira e desleal campanha para o fazer um político à antiga, quando ele foi um inovador ao fazer sua geração chegar ao poder. 

Assumindo em situação delicada para o país e a política nacional, promoveu uma transição pacífica e controlada, apesar de acossado pelo apetite de políticos que encararam a vida pública como uma longa temporada de discursos, conversas de bar e incontrolável vocação para pedir – ou exigir – empregos para amigos nem sempre qualificados. Sofreu muito. Mas contou com uma equipe de qualidade nos ministros Leônidas Pires Gonçalves, Marco Maciel, José Hugo Castelo Branco, Antônio Carlos Magalhães, Abreu Sodré, José Aparecido de Oliveira, entre outros. Administrou bem a Constituinte, que teria sido um desastre maior não fosse a sua paciência.  E teve deputados relevantes como Milton Reis, Roberto Cardoso Alves, Bernardo Cabral, Ricardo Fiuza, Luiz Prisco Viana, que o ajudaram a conter os radicais.

No caso Sarney, a avaliação pode muito bem extrapolar o público. Sua vida familiar é limpa, no casamento com a impecável D. Marly, no amor aos filhos, na dedicação comovente à mãe. Como bom amigo, foi traído, mas não abrigou no coração mágoas ou ressentimentos. Um dos maiores beneficiários com seu apoio, mal empossado  tratou de arregimentar os demais governadores para encurtar seu mandato.Naquele  momento teve o correto apoio do então governador de Minas, Newton Cardoso. 

Tem se prestado a colaborar sempre que solicitado, ajudando com sua experiência e sabedoria. E sem nada pedir. Ao contrário de Temer, que foi até bom Presidente, mas não resiste as más companhias que macularam seu governo.

E, como bem lembrou Vicente Limongi, um intelectual de qualidade desde muito jovem. E foi para a Academia Brasileira muito antes de ser Presidente. O que faz a diferença. 

O Brasil conta com essa reserva.

Sarney certamente perdoa também aqueles que, sem o conhecer, sem motivo algum, não o exalta como o melhor conjunto da obra de nossos ex.  Inclusive muitos que mantiveram  com ele as melhores relações  pessoais como profissionais. Muitos ex vivos com méritos aqui ou ali, mas nenhum com essa personalidade do bem na pessoa pública como na privada.

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Aristóteles Drummond

É jornalista e presidente da Associação Comercial do Estado do Rio de Janeiro

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