Paulo Branco
A vitória para o governo do estado do Rio passa por lugares em que certos progressistas não vão. Há de se caminhar pelos rincões, dialogar com as diferenças - mesmo que elas sejam muitas - e ganhar a maioria. E a maioria não está na capital e nem sempre fala a mesma língua. É difícil. Mas se não há apoio dos meios de comunicação e da máquina pública, não há outro caminho.
A história nos mostra que, quem não se atreve a este movimento amplo, não chega ao Palácio das Laranjeiras.
Marcelo Freixo entendeu parte da missão. Mudou de partido para ampliar o leque de diálogo, mas mantem-se fisicamente na nata. Descolou-se, em partes, do moralismo, mas não incorporou o rebolado. Sem contar a dificuldade de transformar sua imagem em algo palatável ao comum. Falta-lhe o berro, a gesticulação que toca acidentalmente na lâmpada e o sorriso virtuoso. E a virtude, diga-se de passagem, não se compatibiliza com a cara amarrada.
Se por um lado ganha com apoio de Lula, por outro, perde, já que se afasta do perfil “Rede Globo”. Nisso, há um aspecto fundamental: o candidato desalinha-se da própria natureza progressista com contornos liberais. E natureza é natureza. Ruim é contrariá-la. Sem contar que só o apoio de Lula não basta. Marcelo esbarra numa adesão macambuzia de alguns dirigentes petistas. E isso tem explicação. Além dos traços elitistas de Freixo, há uma ligação histórica e compatibilidade programática entre certos dirigentes do Partido dos Trabalhadores e o candidato do PDT, Rodrigo Neves.
Rodrigo tem amplitude, boa experiência e avaliação no executivo, além de jogo de cintura para se relacionar com as diferenças. Sempre esteve ao lado do PT, inclusive, durante e enquanto vítima de perseguição da Lava Jato. O candidato perde sem o apoio de Lula e isso dificulta, parcialmente, a adesão direta e entusiasmada de figuras com entrada no interior e na baixada como André Ceciliano e Washington Quaquá. Gostem ou não, ambos são dois trunfos para a mudança.
Correndo por fora e com a máquina na mão, está Claudio Castro. Bom articulador, pouco falador - o dono da máquina não precisa berrar - e ciente de que - mesmo na pior, muitas vezes, o povo prefere conservar – o atual governador opera na mesma lógica dos seus antecessores. Tem penetração nos meios religiosos e interior; discursa com veemência sobre o catártico tema segurança pública e, mesmo sem intenção de mudança profunda, sabe fazer política e dividir o quinhão. Sem contar a fartura oriunda da venda da Cedae.
Com Marcelo Freixo, de agenda seletiva e pontes para esquerda e para centro-direita inacabadas, e Rodrigo Neves, sem combustível para fazer todo percurso, a chance do Rio de Janeiro continuar amargando é grande.
Paulo Branco
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