sábado, 11 de julho de 2020
Mando no jogo
Sou linda. Amada no mundo todo. Bem feita. Colorida e feliz. Sou famosa como a Bíblia e aquela marca de refrigerante. Onde chego todos se encantam. Mesmo nesta quadra tenebrosa da pandemia, não fazem nada sem mim. Costumo ser tratada como rainha. Com carinho , deferências e cuidados especiais. Faço o espetáculo. Encarno a festa e a alegria. Alguns abusam da minha beleza. Levo sustos e pontapés. Mas a maioria me trata com devoção e amor. Costumo ser beijada e mandada para longe, em algumas comemorações. Em todo lugar me sinto em casa. Sou respeitada. Sabem o perfume que gosto. Alguns até querem dormir comigo. Quando soa o apito, todos querem ficar comigo. No apito final, geralmente sou levada para casa por algum admirador. Sou deusa morando em galerias, museus e bem avaliada por colecionadores. Mesmo sem torcida, como agora, conquisto multidões. Dou as cartas tanto como o cidadão de preto. Faço parte do amplo cenário de luzes, redes, pernas, uniformes, cadeiras, balizas e autofalantes. Voltei do descanso forçado. Na minha ausência, apareceram máscaras, testes e recomendações médicas. Mas continuei necessária e inabalável. O perigo tomou conta do mundo. Em épocas normais, trabalho muito. Os calendários não dão sossego. Enxuta ou molhada não ligo para a tristeza. O futebol não existe sem mim.
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