terça-feira, 29 de dezembro de 2020

Para minhas netas - Anna Ramalho

Não tenho tido vontade de escrever. Minhas tristezas e revoltas tenho posto pra fora nas lives, nas conversas com tantas pessoas queridas e inteligentes com quem venho me comunicando ao vivo pelas redes.

Como tenho o costume de pensar no meu próximo, bolei um encontro de bom humor e alegria para espantar o baixo astral – com meus queridos e hilários amigos Gilda Mattoso e Aloisio de Abreu – um sucesso! A cada sexta-feira aumenta o número dos participantes na minha página do Facebook, fora o pessoal que assiste depois.

Meninas, minhas amadas netas Antonia e Olívia, o bom humor é essencial para a vida. O senso de humor é fundamental. Tudo passa, tudo melhora, quando encaramos mesmo os momentos tristes com leveza e bom humor. Como este longo momento que vivemos já há 9 meses, tristes e com medo, diante do mistério que ainda é este coronavírus. A gente dá uma volta, solta uma gargalhada, e tudo melhora. Até o pânico, até o medo de morrer.




Vocês estão perdendo momentos preciosos. Minha Bela Antonia, no fulgor dos seus 17 anos, ficou sem sua Escola Parque real, presencial, com seus desafios, seus professores, seus colegas, numa época tão importante da vida. No penúltimo ano do resto da sua vida de estudante – em 2022, você já estará na universidade, percorrendo o caminho que a levará à vida adulta, a uma profissão certa, às inúmeras responsabilidades que vêm agregadas à independência.

Minha pequena Olívia, que no dia 31 deste fatídico 2020 faz 5 anos, também perdeu muito nesses 9 meses. A mesma Escola Parque, os coleguinhas que mal começara a conhecer e que podem virar amigos de vida, meses sem poder estar com os avós, naquela convivência tão especial, que faz a diferença quando, lá na frente, olhamos para trás. Perdeu praias e passeios, ataques explícitos de chamegos, mas conheceu o ensino e a recreação via computador e de máscara. Tudo muito estranho, tudo com muito álcool.

Fizemos encontros virtuais, é verdade. No início de tudo, a única forma e um grande consolo. Depois de quatro meses, estivemos juntas com responsabilidade, mas apenas duas ou três vezes. Muito pouco para o coração da vó.

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Olho pra trás, revejo a minha infância tão feliz, tão despreocupada, lembro com amor imenso a minha avó – muito diferente de mim, em tudo e por tudo – e sofro porque vocês não mereciam passar por um tempo tão infeliz, de tantas mortes, de tantas notícias ruins, de tanta podridão e mediocridade.

O que me consola é imaginar que vocês ainda podem ser muito felizes. E serão, se Deus quiser e Deus é Pai. 2020 será uma lembrança ruim, a ser substituída por uma lembrança boa, assim que pintar. Isso é fundamental, meninas: não deixem nunca que os pensamentos ruins ocupem a cabecinha de vocês. Quando pensamos em coisas boas, coisas boas acontecem. Assim é a vida. A tristeza nos visita várias vezes durante a nossa existência – não faz mal ficar triste. Dá e passa com o correr das horas, dos dias. O que não pode é alimentar a tristeza, deixar virar depressão, cair no fundo do poço. A alegria, as boas vibrações, o pensamento positivo são coisas que cultivamos desde cedo. Aprendi com a minha mãe, que não se abatia jamais, e espero que vocês guardem sempre de mim essa lição.

Este Natal vai ser diferente. Não pude atender aos convites dos amigos, meu médico querido não quer que eu saia de casa e abuse da sorte. Sou grupo de risco. Mas terei o melhor dos presentes: vocês duas, aqui em casa, para almoçar comigo no dia 25. Com o distanciamento exigido, sem aquela chuva de beijos, pobrinho de presentes, mas rico do amor imenso que sinto por essas netas lindas, educadas, inteligentes e muito, muito especiais. Meus dois amores, meus dois carinhos.

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Feliz Natal a todos. Um 2021 de esperança e paz. Que possamos ser vacinados logo, que possamos nos livrar de tudo de ruim que 2020 trouxe. Tudo mesmo. Xô, 2020!!!!

https://www.annaramalho.com.br/para-minhas-netas/

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