terça-feira, 23 de agosto de 2022

O brado que retumba

Texto do jornalista e escritor Pedro Rogério

      Aqueles que têm a minha idade hão de se lembrar de um costume nos restaurantes portugueses no Centro velho do Rio de Janeiro. O costume acabou se espraiando para as outras capitais. O garçom nos atendia com polidez ao adentrarmos o salão. Carregava sobre o braço esquerdo um pano branco estendido. Sentávamos e ele passava o pano úmido sobre a mesa. Ao contínuo, ordenava para o balcão, conforme o número de comensais:

  - Serviço para dois! 

  - Serviço para três!


  E lá ia o garçom buscar o potezinho de manteiga, a cestinha de pães e outro potezinho de azeitonas verdes ou pretas. 

   Quando cheguei em Brasília, em 1983, ainda encontrei eco de uma anedota dita verídica (rsrsrs) no meio dos advogados e, contada aos jornalistas, se espalhou para o mundo. Havia um advogado de sobrenome ilustre, o irmão ou tio fora ministro da Saúde de Jango, homem reto e probo. O advogado não honrava o sobrenome: tinha pavor ao trabalho. Um dia ele e um amigo serventuário da Justiça foram de férias para o Rio. Longa jornada. Estacionaram o fusquinha na peixaria famosa da represa de Três Marias para almoçar. O garçom carioca, ao vê-los, bradou ao moço do balcão:

   - Serviço pra dois!

   O advogado correu de medo.

   Se o Bolsonaro deparar com um desses antigos garçons e ouvir o brado, fará o mesmo.

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