quarta-feira, 3 de junho de 2020

PEQUENÍSSIMO ENSAIO SOBRE O ÓDIO

      *Humberto Ellery

Meus caros, sempre que escrevo algum artigo e o lanço nocyberspace, expressando minha opinião sobre qualquer assunto, eu o faço como quem abriu uma gaiola e deixou aquela opinião voar livremente. Jamais me preocupo com réplicas ou tréplicas, mesmo porque opinião é como boca, todo mundo tem uma. 

Como Chesterton repito: ¨não me julguem pretensioso ou arrogante por afirmar que a melhor opinião sobre qualquer assunto é sempre a minha, ao contrário, é pela mais absoluta humildade; não tenho nenhum apego às minhas opiniões, estou sempre disposto a trocá-las por outras, desde que fique demonstrado que estas novas opiniões são melhores que as minhas¨.

 Peço aos que me contestam apenas que se atenham às opiniões e aos argumentos, critiquem à vontade , uns e outros. Isso de crítica construtiva depende do criticado, toda a crítica feita a mim é sempre construtiva, é sempre bem vinda, aproveito sempre para melhorar, ¨prefiro a crítica que me corrige, ao elogio que me corrompe¨(Santo Agostinho)

Ultimamente, entretanto, mais que criticar minhas modestas opiniões tenho percebido, principalmente entre os que costumo chamar ¨bolsonáticos¨, um hábito muito peculiar
de criticar a mim (argumentum ad hominem), e não ao que pode e deve ser criticado: opiniões e argumentos.

Sou tenazmente crítico do atual (des)governo, mesmo tendo votado no Bolsonaro (no 2º turno, fique bem claro!), levando em conta que a volta do PT ao Poder seria mais pernicioso ao País (esta minha opinião já subiu no telhado). 

Em recente crítica que fiz ao modo do ¨Mito¨ (des)governar a nação, pude observar duas críticas ao meu texto completamente incompreensíveis. O meu amigo Reginaldo Vasconcelos afirmou que assim eu me manifestava por sentir ódio ao ¨Mito¨. Ora, quem costuma ler minhas críticas já deve ter observado que jamais critico pessoas, mas fatos, atos, atitudes, providências, e sempre mantendo uma linguagem civilizada, educada e respeitosa, sem nunca passar nem perto do que poderia ser qualificado como injúria, calúnia ou difamação.

Surpreende principalmente porque meu preclaro amigo Reginaldo é jornalista, e mais do que isso, é Presidente da Academia Cearense de Literatura e JORNALISMO, sodalício do qual tenho a honra de ser membro (por amizade de quem me convidou, o Beto Studart, Membro Benemérito) e não por eventuais méritos meus, que não sou jornalista nem literato, apenas amo muito tudo isso.

Sendo o Reginaldo um jornalista, e afirmando que a minha  crítica é um ato de ódio, ele está desqualificando não só a Imprensa Nacional, que em sua imensa maioria tem criticado o (des)governo do ¨Mito¨, como até a Mídia internacional, que vai do esquerdista Le Monde ao conservador The Guardian, passando por todos os grandes jornais americanos, europeus e asiáticos. Será apenas ódio o que os move? Lembra a piada: ¨se todo mundo parasse de me perseguir eu deixaria de ser paranóico¨

Até revistas Médico-Científicas, que não cuidam de políticas que não sejam referentes à Saúde, como a The Lancet, e a JAMA - Journal of the American Medical Association, têm feito críticas acerbas sobre sua interferência desastrosa na política de combate ao COVID 19, com reflexos absolutamente deletérios sobre a imagem do Brasil. 

O grande intelectual e político americano Adlai Stevenson dizia que o papel da imprensa era ¨separar o joio do trigo; e publicar o joio¨. A função primeira do Jornalista, como olhos, ouvidos e, principalmente boca da sociedade é criticar, se for para elogiar vá ser Relações Públicas ou
Publicitário. 

Suponho, peço que me perdoem se eu estiver errado, que por seu incontestável amor ao ¨Mito¨, amor que se traduz num sectário ¨Culto à Personalidade¨, eles (¨bolsonáticos¨)
são levados a uma estreiteza mental que os faz acreditar que se alguém não ama o ¨Mito¨
é porque o odeia. Tivessem lido Érico Veríssimo saberiam que ¨o sentimento contrário ao 
amor não é o ódio, mas a indiferença¨. 

Aliás, acredito que o ódio nem mesmo é um sentimento, mas uma patologia. Como entender que uma pessoa psicologicamente sadia mantenha seu coração permanentemente destilando sentimentos de vingança, vontade de destruir, matar alguém que, vá lá, o prejudicou? Odiar 
é como beber um copo de veneno na esperança de assim matar seu inimigo.

George Bernard Shaw (que foi também jornalista), disse que ¨o ódio é a arma dos covardes¨.
Com perdão do grande intelectual irlandês mas discordo da assertiva, pois a ser assim o que seria a arma dos bravos? a vingança? É o que dá pra entender: se o covarde não tem coragem de perpetrar uma vingança (quem sabe, matar), o objeto do seu ódio, e fica remoendo o ódio, 
o bravo, sem medo, mataria seu desafeto! Isso não acontece, pois os verdadeiramente bravos
não odeiam, pois conhecem o enlevo, o prazer divino do perdão.

Ainda no terreno das discordâncias, permito-me discordar do poeta sambista Ataulfo Alves, pois perdão não ¨foi feito pra gente pedir¨, mas para doar. Perdonum, perdonnare, pardonnér, vergeben, forgive, até etimologicamente é um ato de doação, de amor, e que inunda meu coração, não deixando espaço para sentimentos (ou patologias) torpes, rasteiros, abjetos, como ódios, ressentimentos, inveja, mágoas. 

Vou concluir citando o grande filósofo espanhol Ortega y Gasset (para fingir uma erudição que não tenho) que nas Meditações do Quixote ensinou que ¨o Amor é um divino arquiteto que baixou ao mundo - segundo Platão- ¨a fim de que tudo no Universo viva em conexão¨. A inconexão é o aniquilamento. O Ódio fabrica a inconexão, isola e desliga, atomiza o orbe e pulveriza a individualidade¨. 

Um forte e amoroso abraço do Humberto Ellery

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