segunda-feira, 24 de junho de 2019

O ovo da serpente - Por Domingos Meirelles

O filme de Ingmar Bergman utiliza como pano de fundo o fracassado Putsch de
Munique em 1923 para descrever a ascensão do nazismo em uma Alemanha
devastada pela I Grande Guerra. O país enfrentava grave crise econômica, política
e social, e milícias atacavam pessoas nas ruas sem conhecê-las, aspergindo o ódio
e o medo entre a população. Através da alegoria do ovo, Bergman expõe as
mazelas da condição humana. A violência insana contra aqueles que pensam
diferente está sintetizada no ovo da serpente. Através das suas membranas, via-se
o réptil que já pulsava dentro da casca. Anos depois aflorava o nazifascismo com
todos os seus horrores.

Na insidiosa campanha da oposição contra a ABI é possível observar como
a serpente se move fora do ovo. Como todo animal carnívoro, possui uma dieta
preferida. Alimenta-se preferencialmente da honra, do caráter, dos méritos e
realizações alheios. Não tem substância própria: o que ela tem é capturado dos
outros. Como rasteja, não sabe também o que é altivez. Acusar a ABI de
clientelismo e assistencialismo por distribuir mensalmente cestas básicas a
jornalistas no limiar da miséria é, ao mesmo tempo, uma demonstração de
insensibilidade e falta de solidariedade humana.

Não se pode também fazer chacota com as cestas de Natal que entregamos
todos os anos aos associados mais carentes, com a ajuda da LBV. Se nossos
detratores desfrutam de mesas fartas no Natal, deveriam saber que essa não é a
realidade da maioria do nosso corpo social e da população brasileira. Esse
comportamento debochado é extremamente revelador: demonstra o quanto a
oposição está desconectada do mundo real. Acentua também o desapreço que a
chapa "ABI-Luta pela Democracia" tem pelos associados que sobrevivem em
condições de extrema vulnerabilidade. Não merece nosso respeito quem
achincalha e despreza o outro, no momento em que mais precisa do apoio de todos
nós.

A oposição não pode continuar inventando regras próprias para disputar
uma eleição aos gritos e empurrões como se participasse de uma briga de rua. Não
pode também violar impunemente o Estatuto e o Regulamento Eleitoral para
atender exclusivamente a interesses partidários, com os olhos voltados para o
pleito municipal de 2020.

Não é crível legitimar os descaminhos que transformaram o jornalismo em
uma atividade cada vez mais desacreditada, após ser capturado por milícias digitais
sem qualquer compromisso com a verdade e que não toleram conviver com quem
pensa diferente. Nas eleições que se avizinham, a ABI não pode ser sequestrada
por velhas raposas felpudas dedicadas ao ativismo político, há muito afastadas do
cotidiano das redações, e dos problemas que flagelam a profissão.

Não se pode deixar que a Casa de Herbert Moses e Prudente de Morais seja
transformada num gueto ideológico, submetida a um pensamento hegemônico que
não admite o contraditório. Não podemos permitir que se percam para sempre os
últimos fiapos de prestígio e grandeza que ainda restam neste nobre ofício. Não é
possível tolerar que o jornalismo continue se esgarçando cada vez mais diante da
falta de ética e do oportunismo daqueles que se apropriaram indevidamente da
profissão para fazerem proselitismo político.

Ao longo dos seus 111 anos de existência, a ABI sempre foi um generoso
espaço de convivência que hospedou de forma harmoniosa as mais diferentes
correntes de pensamento. Não podemos permitir que serpentes, criaturas frias, sem
patas, sem pelos nem plumas, façam ali seu ninho, choquem seus ovos, para em
seguida devorar a instituição, como alerta a mitologia grega. Não foi por acaso que
Maria, mãe de Jesus, resolveu esmagar a cabeça de uma serpente, ao invés de
escutá-la.

O corpo social da ABI não pode correr o risco de continuar sendo assediado
pelo sibilar das sucuris. Em Júlio Cesar, Shakespeare dizia que era preciso matar
a cobra ainda dentro do ovo para evitar que fôssemos vítimas do seu veneno. Mesmo nos contos de fadas, quem nasce para rastejar, jamais se transformará em
gaivota ou beija-flor. Shakespeare sabia como poucos que é impossível mudar a
natureza dos seres vivos. No dia 27 de junho, o corpo social fará uma escolha: ou
votará em um serpentário ou na Chapa ABI PARA TODOS, que reúne pessoas de
bem como você.

 www.abiparatodos.com

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