Por Tainara Machado/ Valor Econômico
Apesar dos sinais incertos em relação ao desempenho da produção industrial em novembro, empresários e líderes de associações industriais dos segmentos de bens de consumo ouvidos pelo Valor relatam um dezembro com boas vendas e produção em alta. O desempenho será insuficiente para reverter expectativas frustradas ao longo do ano, mas aumentou o otimismo com o começo de 2013. O otimismo das indústrias de bens de consumo - no qual setores importantes foram beneficiados com incentivos fiscais, como a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) ou a desoneração da folha de salários - contrasta com a incerteza que ainda ronda outros setores, como os fabricantes da Zona Franca de Manaus e os produtores de máquinas e equipamentos. No meio do caminho estão segmentos intermediários, como a indústria química e a siderúrgica, cujo segundo semestre foi melhor que o primeiro, mas o ritmo ainda é considerado fraco. Na média, dezembro foi moderado e com ritmo setorial distinto, como todo o resto de 2012. Brinquedos, eletrodomésticos, calçados, têxteis e vestuário estão entre os setores que venderam mais em dezembro ou já receberam encomendas mais firmes para os primeiros meses do próximo ano. A fabricante de brinquedos Estrela estima vendas 15% maiores neste Natal (percentual superior ao incremento alcançado em 2011), a Whirlpool relata melhora nas vendas dos últimos dois meses inclusive para produtos não atingidos pelo IPI menor, enquanto para a calçados Piccadilly as encomendas para o começo de 2013 estão maiores que em igual período do ano passado. A têxtil Döhler, depois de vender mais no último trimestre, monitora o varejo para "imaginar" como virão os pedidos de reposição de estoques.
Ainda assim, os primeiros indicadores coincidentes de atividade em novembro apontam para perda de fôlego da indústria em novembro, após a alta de 0,9% em outubro. A produção de automóveis recuou 2,5% em novembro ante outubro, de acordo com a Anfavea (entidade que reúne as montadoras), enquanto as vendas de papelão ondulado caíram 0,5% na mesma comparação, segundo dados da Associação Brasileira do Papel Ondulado (ABPO), sempre com ajuste sazonal da LCA Consultores. Esses são indícios preliminares de que a queda da produção industrial no mês pode ser de até 1%, bastante influenciada pela indústria automotiva e pelo segmento de bens de capital, segundo Rodrigo Nishida, economista da consultoria. "A indústria continua a se recuperar de forma lenta e irregular, mas o acumulado desses movimentos ainda é positivo", afirma. Em dezembro, por exemplo, a média diária de emplacamentos de veículos sinaliza alta do setor. A redução de IPI para alguns itens da linha branca, por exemplo, fez com que o ano fosse de crescimento forte para o setor, segundo Armando Valle, vice-presidente de relações institucionais e sustentabilidade da Whirlpool. A expectativa, segundo Valle, é de crescimento de 15% a 20% das vendas de máquinas de lavar, refrigeradores e fogões, ante expansão de 5% a 7% no ano passado. "Não observamos esfriamento ao longo de 2012, pelo contrário, a redução de IPI deixou o setor em um paraíso."
Mesmo considerando outras linhas de produtos, como micro-ondas e ar-condicionado, a expectativa é de crescimento de 10% no ano. No caso dos itens em que não há desoneração de IPI, foi possível sentir retomada das encomendas em outubro e novembro, após um primeiro semestre fraco, segundo Valle. Com base nas encomendas já recebidas, a fabricante de brinquedos Estrela estima que as vendas no Natal deste ano vão crescer cerca de 15% em relação a 2011. No ano passado, o avanço em relação a 2010 foi de 10%. A perspectiva do diretor de marketing da empresa, Aires Leal Fernandes, é de que o ritmo de crescimento no fim do ano também seja mais forte do que o observado no Dia das Crianças, quando as vendas ao varejo da empresa aumentaram cerca de 10% em relação ao ano anterior. Para o diretor, a desvalorização do real ajudou no desempenho mais positivo esperado para os meses finais de 2012, já que este é um setor em que há forte concorrência de importados. Na Zona Franca de Manaus, as expectativas são mais cautelosas. De acordo com o vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam), Wilson Périco, o segmento eletroeletrônico (televisores e aparelhos celulares, principalmente) teve produção mais forte em outubro e novembro, o que permitiu normalização dos estoques no período. Ainda assim, a retomada será insuficiente para que o segmento alcance a expectativa de crescimento de 14% em 2012. O ramo hoje trabalha com projeção de crescimento de 10% em relação a 2011. "Em contrapartida, o segmento de duas rodas tem queda muito significativa da atividade neste ano, de cerca de 20% em relação ao ano passado, por causa das condições mais restritivas na concessão de crédito", afirma Périco.
Na indústria química, o consumo aparente (produção nacional somadas às importações, líquidas das exportações) mostra certa estabilidade nos últimos dois meses, segundo Fátima Ferreira, diretora de economia da Abiquim, que reúne empresas do setor. Apagões no Nordeste em outubro e no Sudeste no mês passado prejudicaram o desempenho do segmento, mas Fátima nota que as encomendas também não estão ocorrendo em maior volume do que em 2011. "O que observamos é que embora o consumo tenha permanecido o mesmo, o importado deu lugar à produção nacional, por causa do câmbio e, mais recentemente, elevação da alíquota de importação de alguns produtos." O presidente do Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda), Carlos Loureiro, afirma que após um primeiro semestre bastante fraco, a segunda metade do ano foi de vendas melhores para o setor, acompanhando o aumento da demanda da cadeia automotiva. Em novembro, diz, houve crescimento em relação a igual período do ano passado. Ainda assim, a distribuição de aço deve crescer apenas 2% neste ano, frustrando a projeção inicial de avanço de 6%. José Velloso, vice-presidente da Abimaq, entidade que reúne os fabricantes de máquinas e equipamentos, afirma que tanto a carteira de pedidos quanto o nível de utilização da capacidade instalada ainda não permitem maior otimismo do setor. Para Velloso, o segmento de bens de capital atingiu o fundo do poço, mas isso não significa dizer que há retomada em cursos. Para ele, o quarto trimestre de 2012 ainda deve ser de investimento negativo - a sexta retração consecutiva nessa base de comparação, se confirmada. Crescimento mais intenso só é esperado a partir de abril do ano que vem. Velloso afirma que medidas como a redução de juros do Programa de Sustentação do Investimento (PSI) de 5,5% para 2,5%, anunciada em agosto, só começaram a se refletir nas consultas ao BNDES recentemente. "O número de aprovações foi mais forte em outubro, mas ainda não refletiu no nosso faturamento", explica.
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