sexta-feira, 5 de junho de 2009

Said Barbosa Dib

Excluídos da economia real, incluídos na virtual
“Na América de hoje, até mesmo pessoas sem endereços têm necessidade de ter endereços eletrônicos”.
A explosão tecnológica dos Anos 90, com as conhecidas especulações no índice Nasdaq, aliada às políticas econômicas recessivas e excludentes do neoliberalismo, trouxeram contradições, no mínimo, curiosas. O poderoso lobby das grandes corporações de tecnologia foi aquinhoado com gigantescos recursos especulativos. Era o cassino da moeda falsa, o dólar (papel pintado), tentando investir na economia real, tentando obter a substância que não tinha. Além das privatizações/doações em países emergentes, escolheram um setor muito específico, muito singular, o da alta tecnologia, que não gera grandes empregos, pois se trata de um setor que se utiliza de mão-de-obra altamente especializada. Isto permitiu investimentos suntuosos em alta tecnologia, que geraram grande produtividade no setor de comunicação, diminuindo os custos e barateando os preços. Mas, na primeira década do século XXI, logo se percebeu que a especulação de uma forma geral (com a desregulamentação) e a escolha de setores muito específicos, como o da alta tecnologia, sacrificaram os investimentos nos setores mais importantes da economia real. É claro que estes não foram os únicos fatores da atual crise, mas muito contribuíram com o desemprego crônico que hoje existe. As cenas retratadas abaixo são sintomáticas. Em grandes cidades como Nova York, Los Angeles e São Francisco, alguns desempregados, pessoas desabrigadas, apesar da miséria em que se encontram, costumam utilizar abrigos e bibliotecas públicas para se manterem ligados à Internet. Usam laptops, possuem blogs, emails, twitteres e debatem em fóruns. O The Wall Street Journal captou algumas cenas interessantes dessa grande contradição que o neoliberalismo trouxe. O jornal mostra, por exemplo, a situação do mendigo Sr. Pitts. O sem-teto afirma que conhece vários “locais secretos” ao redor da cidade de São Francisco, onde consegue obter sinal de internet gratuitamente, como no metrô, por exemplo. Charles Pitts frequenta um café em Polk Street, em San Francisco. Tem 37 anos e diz que está desalojado há dois . Encontra acesso à Internet enquanto está sentado em uma escada rolante em uma estação de trem em San Francisco. Sr. Pitts conhece vários "locais secretos" ao redor da cidade onde pode acessar, o que ele considera “um presente poder ligar a uma tomada elétrica e obter um sinal sem fio gratuito”. (Brian L. Frank for The Wall Street Journal)
Sr. Pitts vai online ao Transbay Terminal. Tem contas no Facebook, MySpace e Twitter. Dirige um fórum do Yahoo, lê notícias online e se mantem em contato com amigos através de e-mail. De onde dorme sob a rodovia, o Sr. Pitts pode obter um sinal, mas lhe falta de uma tomada elétrica, o que significa que tem de usar seu computador com certa parcimônia. A excelente foto-reportagem no WTJ começa comentando: “Na América de hoje, até mesmo pessoas sem endereços têm necessidade de ter endereços eletrônicos”. Os projetos do governo Lula, que falam de “inclusão social” e que prometem distribuir laptops para os alunos da rede pública, estão a todo o vapor. As grands licitações, também. No entanto, as escolas públicas estão à míngua, os professores estão desistindo da carreira e a economia insiste em não crescer. Os empregos são cara vez mais raros. Estamos também gerando desempregados internéticos em potencial. A maior glória do senhor Lula da Silva vai ser quando nossos atuais alunos também se transformarem em mendigos de rua com acesso à internet e alimentados por programas sociais de assistência. Lula dirá que “nunca antes nesse país mendigo foi tão moderno”. É este o socialismo do nosso presidente... Quem viver verá...

Fotos de Brian L. Frank para o The Wall Street Journal


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