A antropóloga norte americana Margaret Mead defendia que o primeiro vestígio de civilização humana havia sido “um fêmur com 15 mil anos encontrado numa escavação arqueológica”. O fêmur estava partido, mas tinha cicatrizado. É um dos maiores ossos do corpo humano e demora seis semanas para curar, imobilizando a pessoa. Para Mead, alguém tinha cuidado daquela pessoa. Abrigou-a e alimentou-a. Protegeu-a, ao invés de a abandonar à sua sorte”. Na natureza, qualquer animal que parta uma perna está condenado. Se for um predador, não consegue caçar; se for uma presa, não consegue fugir. Está morto. Então, concluiu Mead: “o que nos distingue enquanto civilização é a empatia, a capacidade de nos preocuparmos com os outros”.
O CC brasileiro preceitua: “A solidariedade não se presume”. Sim, ela não se presume. Nem a própria lei há de imbuir no contexto humano a capacidade de ser solidário. Solidariedade é partícula de generosidade. E a generosidade é própria de cada um. Corre nos fluídos do espírito.
Há dias eu ouvi falar sobre as doações de um determinado homem. Não me surpreendi, embora sua generosidade seja sempre emudecida por ele e por quem foi beneficiado. É este o pacto. Ele é exatamente assim em sua discrição, que muitas vezes confundimos com timidez. Ele também é tímido. Não tem arroubos. A minha não surpresa é óbvia. A generosidade lhe é peculiar. Está em cada pequeno gesto de gentileza para com os que com ele convivem. O tom de voz é generoso. A presteza em nos atender é encantadoramente generosa. Há um cuidado genuíno em nos apresentar um não como resposta. A gentileza é um dos formatos da generosidade.
Eu conheço Dr. Estenio Campelo há anos, quando ainda no seu começo de carreira, em um escritório de sociedade com outros advogados. Houveram mudanças de lá para cá, conseqüência de determinação profissional, afinco, estudos. Toda a área do pequeno escritório está contida na recepção do atual. O corte dos novos ternos denunciam o cuidado de quem o produziu. Tudo isso nos assusta um pouco, pela elegância extremada. Mas o susto é diáfano e se dissipa quando a gente adentra na sala dele. Aquele mesmo sorriso e voz mansa que nos recepciona continua encantador como antes. Não houve mudança na alma. Se o nosso motivo de estar ali é mínimo em relação ao nível dos atuais clientes, isso não lhe provocou nenhum desprezo ou desleixo pelo caso. É sempre o profissional determinado, atencioso. Incrível! Mais do que as doações financeiras aportadas por ele nas instituições filantrópicas de forma silenciosa, há este homem singular, resistente à toda e qualquer superficialidade que a ascensão financeira costuma provocar. As doações são só conseqüências também... conseqüências de uma vida inteira de generosidade.
Tenha um boa tarde! E obrigada por personificar histórias tão boas de ouvir e contar, num mundo em que a solidariedade humana anda em escassez. Que Deus lhe conceda as bênçãos da saúde!
Rosane Santos
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